FUNDAÇÃO DA ESCRITA
POR EDUARDO GALEANO
Quando o Iraque ainda não era o Iraque, ali nasceram as primeiras palavras escritas.
Parecem pegadas de pássaros. Mãos de mestre as desenharam, varinhas afiadas, na argila.
O fogo, que havia cozido a argila, as guardou. O fogo, que aniquila e salva, mata e dá vida: como os deuses, como nós.
Graças ao fogos, as tabuinhas de barro continuam nos contando, até hoje, o que tinha sido contado faz milhares de anos nessa terra entre dois rios.
Em nosso tempo, George W. Bush, talvez convencido de que a escrita tinha sido inventada no Texas, lançou com alegre impunidade uma guerra de extermínio contra o Iraque. Houve milhares e milhares de vítimas, e não apenas gente de carne e osso. Muita memória também foi assassinada.
Numerosas tabuinhas de barro, história viva, foram roubadas ou destroçadas pelos bombardeios.
Uma das tabuinhas dizia:
Somos pó e nada
Tudo que fazemos não é mais que vento.
GALEANO, EDUARDO
ESPELHOS, UMA HISTÓRIA QUASE UNIVERSAL
L&PM EDITORES
2008
ME QUEDA LA PALABRA
BLAS DE OTERO/PACO IBAÑEZ
LA POESIA ESPAÑOLA DE HOY Y DE SIEMPRE
PACO IBAÑEZ
1967