segunda-feira, 22 de julho de 2013



FUNDAÇÃO DA ESCRITA


POR EDUARDO GALEANO


Quando o Iraque ainda não era o Iraque, ali nasceram as primeiras palavras escritas.

Parecem pegadas de pássaros. Mãos de mestre as desenharam, varinhas afiadas, na argila.

O fogo, que havia cozido a argila, as guardou. O fogo, que aniquila e salva, mata e dá vida: como os deuses, como nós.

Graças ao fogos, as tabuinhas de barro continuam nos contando, até hoje, o que tinha sido contado faz milhares de anos nessa terra entre dois rios.

Em nosso tempo, George W. Bush, talvez convencido de que a escrita tinha sido inventada no Texas, lançou com alegre impunidade uma guerra de extermínio contra o Iraque. Houve milhares e milhares de vítimas, e não apenas gente de carne e osso. Muita memória também foi assassinada.

Numerosas tabuinhas de barro, história viva, foram roubadas ou destroçadas pelos bombardeios.

Uma das tabuinhas dizia:

Somos pó e nada
Tudo que fazemos não é mais que vento.

GALEANO, EDUARDO
ESPELHOS, UMA HISTÓRIA QUASE UNIVERSAL
L&PM EDITORES
2008



ME QUEDA LA PALABRA
BLAS DE OTERO/PACO IBAÑEZ
LA POESIA ESPAÑOLA DE HOY Y DE SIEMPRE
PACO IBAÑEZ
1967