Carlos Fuentes, o grande escritor mexicano, a quem admiro desde que, há muitos anos já, li esse livro fascinante que é Aura, passou ontem por Lanzarote. Veio com sua mulher, a jornalista Silvia Lemus, estiveram algumas horas (duas delas ocupadas por uma entrevista que dei a Silvia), e juntos visitámos a Fundação César Manrique.
Ficou claro, logo desde o primeiro momento, que estávamos a colocar a primeira pedra de uma amizade que se consolidará (estou certo disso) na viagem que Pilar e eu faremos, no próximo ano, ao México.
Registo aqui o recolhimento com que Carlos Fuentes leu o poema de Rafael Alberti dedicado a César Manrique, aquele que está na Fundação: Vuelvo a encontrar mi azul...
No fim, Fuentes disse: «Poetas como Alberti e Neruda convertem em poesia tudo o que tocam.»
Foi um dia grande para Lanzarote.
IN CADERNOS DE LANZAROTE, VOLUME V
LANZAROTE
-PRIMERA ESTROFA-
A CESAR MANRIQUE,
PASTOR DE VIENTOS Y VOLCANES
Vuelvo a encontrar mi azul,
mi azul y el viento,
mi resplandor,
la luz indestructible
que yo siempre soñé para mi vida.
Aquí están mis rumores,
mis músicas dejadas,
mis palabras primeras mecidas de la espuma,
mi corazón naciendo antes de sus histórias,
tranquilo mar, mar pura sin abismos.
Yo quisiera tal vez morir, morirme,
que es vivir más, en andas de este viento,
fortificar su azul, errante, con el hálito
de mi canción no dicha todavía.
Yo fui, yo fui el cantor de tanta transparencia,
y puedo serlo aún, aunque sangrando,
profundamente, vivamente herido,
lleno de tantos muertos que quisieran
revivir en mi voz, acompañándome.
Más no quiero morir, morir aunque lo diga,
porque no muere el mar, aunque se muera.
Mi voz, mi canto, debe acompañaros
más allá, más allá de las edades.
He venido a vosotros para hablaros y veros,
arenales y costas sin fin que no conozco,
dunas de lavas negras,
palmares combatidos, hombres solos,
abrazados de mar y de volcanes.
Subterráneo temblor, irrumpiré hacia el cielo.
Siento que va a habitarme el fuego que os habita.
*RAFAEL ALBERTI,
TAHICHE, 31-V-1979
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
a galopar
por enilton grill
rafael alberti escreveu 'a galopar' em madri, em sua casa da rua velasquez 53, inspirado na cavalaria republicana.
os versos deste poema tornaram-se estandarte revolucionário das reivindicações antifranquistas.
exortação à tomada do poder contra o inimigo invasor de suas terras, este poema evidencia os valores simbólicos do cavalo e do cavaleiro. o cavalo, através de seu brio e força, sugere a figura de um libertador enquanto o jinete que o conduz é a imagem e metáfora do povo que luta, avança e galopa, dono de seu próprio destino, em busca de liberdade.
o poema foi escrito durante a guerra civil que assolava a espanha. o envolvimento de rafael com os republicanos foi total e irrestrito e o galope do cavalo sua confissão de fé.
anos depois paco ibáñez colocou música e o poema galopou mais rapidamente antes em espanha e logo em terras mais distantes.