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quarta-feira, 2 de março de 2016



Américas


*Por Luis Rubira


Texto publicado no Diário Popular
Fevereiro 08, 2005


Durante o quinto Fórum Social Mundial de 2005 foi erguido, próximo ao anfiteatro Pôr-do-Sol às margens do Guaíba, o Palco Atahualpa Yupanqui, numa homenagem a um dos músicos sul-americanos mais respeitados no mundo inteiro.

Cumpre lembrar que no ano de 2003 Kolla Yupanqui, filho de don Atahualpa, elegeu um especialista em música, que mora na cidade de Pelotas, para representar a Fundação Atahualpa no Brasil.

Enilton Grill é, certamente, uma das pessoas que mais entende da multiplicidade musical produzida nos três continentes americanos. Em sua casa, ao entrar na sala, já nos deparamos com quase dois mil cedês criteriosamente escolhidos.

Conhecido por muitos músicos, recebe discos que vêm de longe e de culturas específicas, tais como os discos de Amâncio Prada - uma pedra preciosa da Galícia.

Para se ter uma idéia, Enilton Grill apresentou um dos maiores músicos do Uruguai, Daniel Viglietti, a um dos maiores nomes da música no Brasil: Dorival Caymmi; e no disco Ramilonga - A estética do frio, entre as pessoas as quais Vítor Ramil agradece está o nome de Enilton Grill.

Há quase dez anos apresenta o programa Américas numa rádio da cidade de Pelotas, já tendo percorrido praticamente todos os caminhos musicais destas vastas culturas de língua portuguesa, espanhola e inglesa.

Seus programas são um luxo não só sonoro mas educativo, pois partem da música mas percorrem caminhos da história, da filosofia, da política e outros 'caminhos no bosque' como diria o filósofo Martin Heidegger.

Na sala de sua casa, além dos discos e de muitos livros especializados em música, podemos ver três quadros na parede que revelam o tripé onde sua lente musical está apoiada: ali aparecem as fotos de Bob Dylan, Chico Buarque e Atahualpa Yupanqui.

Aproveitando esta homenagem que o Fórum Social Mundial presta a Yupanqui, esperamos que a Fundação Atahualpa receba incentivo para sua concretização.

Afinal já está na hora de que o conhecimento de Enilton Grill não fique reduzido a privilegiados ouvintes da cidade de Pelotas mas, tal como as 'coplas' de Yupanqui, seja repartido com outras pessoas de nosso país.

*Mestre em Filosofia pela PUC - Rio Grande do Sul.
Doutor em Filosofia pela USP - Universidade de São Paulo
É membro do Grupo de Estudos Nietzsche da Universidade de São Paulo
e do Groupe International de Recherche sur Nietzsche.
Atualmente é professor do Departamento de Filosofia da UFPel
e coordenador do ciclo 'A Filosofia e o Cinema Político'.

terça-feira, 2 de setembro de 2014



Sembomatsu-Bára


De Atahualpa Yupanqui



Traduzido por Enilton Grill



Ay del que llega sediento
y mira el agua correr.
Y dice: «La sed que siento
no se calma con beber.
Antonio Machado



Este é o lago sagrado, o Biwa, de claras águas aceradas. Um horizonte de colinas e cerros o separam do mar.

Quando a flor da cerejeira começa a antecipar primaveras na montanha, a neve rompe seu silêncio e ensaia um canto de cristal sobre as pedras. E se faz fio d'água, caminho viajante, arroio travesso. E todos seus frescores vão ao Biwa. E contam as coisas que ouviram na montanha durante o inverno. Contam as canções dos lenhadores (homens de machado afiado, cara gris e sapatos de madeira). Contam o amor das meninas por entre os pinheiros, a ronda dos caçadores, a lenda que sempre está na boca dos avós, guardiães da arte dos menestréis.

Por eles, pelos avós, sabem as crianças o melhor e mais antigo da comarca. Sabem e não duvidam, que uma vez houve um gigante, muito gigante e muito sábio que extraiu lodo do fundo do Biwa, e amassando-o com pedras de cores fez uma montanha que chamou Fujiyama, para que todos os seres o vejam como símbolo e saibam que está feito com vontade e com tempo, com toda a força da fé.

Este é o Biwa, entre o Fuji e o mar. E existe um cerro menor, o Shinyu-óka, que significa: Cerro Callado, Cerro del Silencio. Até o seu topo vão os pescadores depois de uma desgraça. Quando o mar se faz tumba, os homens da costa preparam um arpão de madeira. E o cobrem de flores. E sobre o boné, uma tocha. E vão em caravana por um caminho estreito até o topo do Shinyu-óka. Ali descansam um instante, e logo, todos de pé na noite povoada de candeeiros, pensam nos jovens que o mar sepultou. Ninguém fala. Pensam o melhor, que é a melhor maneira de rezar.

O Cerro del Silencio recebe todas as vibrações, que um dia hão de rodar até o Biwa, quando o sol de abril converter as neves em cânticos e choros.

Uma fria manhã de fevereiro andei essa comarca, desde Hamamátsu até Kioto, a antiga capital del Nipón.

Como um rabdomante com sua vara de vime, eu procurava também por um jaguel de lendas, portando uma guitarra argentina e um velho poncho provinciano. Assim atravessei o túnel de nove quilômetros. Assim encontrei o caminho do Shinyu-óka. Assim cheguei á tarde a uma aldeia, Sembomátsu-Bára, o «Cerro de los mil pinos». Aí no mais, passando os pequenos arrozais, o Biwa. E no outro lado, o mar.

É muito difícil penetrar nas entranhas da alma japonesa. Este povo tem muitos séculos de vida-caracol, metido em si mesmo. Os deuses manejam toda sua conduta. Em meio ao povo, o budismo, especialmente a seita dos Tzen. Em meio à burguesia e à velha aristocracia, o xintoísmo, que é a autêntica religião japonesa. E desde suas comidas até sua saudação, a viagem, a família, o lugar, a palavra e a cor das roupas, tudo está determinado por um antigo ritual.

Todos se ajudam para viver, mas ninguém tenta evitar a morte de ninguém. Talvez por isso o suicídio é considerado pelos sociólogos como endemia permanente no país.

Talvez por isso uma noite, no Sembomátsu-Bára, morreu o último poeta romântico da região: Boksuí.

Passada a tragédia da guerra, Boksuí voltou a sua aldeia. Como era lenhador, voltou para as montanhas e seguiu trabalhando em sua profissão. Oficio ritual, pois antes de ferir a madeira se abraçava à árvore e beijava a casca, como quem se despede de um ser querido.

Duas vezes por semana carregava de gravetos um velho carro e rumava para a cidade. Repartia sua lenha entre a clientela, e ao passar por um pequeno jornal deixava um poema, e voltava logo em seguida, lentamente como si carregasse toda a paisagem sobre seu coração, à sua cabana no «Monte de los mil pinos»

Mas a guerra havia trazido a destruição e a pobreza. E as pessoas simples da cidade não podiam pagar por sua mercadoria. Boksuí disse: «Não importa». E seguiu por muito tempo cuidando do mesmo trabalho, fazendo versos, mirando as brumas do Biwa no inverno, vendo longe os tetos e as curtas chaminés por onde saia a fumaça de dentro das casas. E a fumaça era a alma de seus pinheiros, o rigor de suas mãos, o beijo e o machado do homem na primeira luz da manhã.

Já não tinha tabaco para seu cachimbo. Sua caixa de legumes estava vazia. Mas Boksuí pensava nos demais, nos vizinhos, nas crianças, no inverno brabo.

Um meio-dia desceu à cidade com seu carro carregado de lenha. Era sua última viagem, e ele talvez já soubesse.

Ao passar pelo pequeno jornal de seus amigos deixou um poema:

Cuántos montes tendré que atravesar,
cuántos ríos, cuántos lagos,
para llegar, al fin, a una región
donde no tenga cabida
la tristeza...
(Fragmento do último poema de Boksuí)

Retornou a sua cabana de Sembomátsu-Bára. Os aldeões o encontraram morto sobre seu «tatámi», a esteira de juncos. Em seu fogão não havia sequer rastros de um pedaço de lenha. Toda ela havia dado, havia repartido por aí. Quando a morte o foi buscar, acabara de completar 44 anos de idade. Mais de que que uma grande lembrança, deixou seus poemas, que os amigos reuniram em um volume com o título de seu lugar de morar: Sembomátsu-Bára.

Todos os anos, quando completa um novo aniversário de sua morte, vão à cabana de Boksuí os poetas, os pintores e os aldeões. Ali acendem o fogão e jogam ervas aromáticas. E dizem poemas e cantam alguma canção.

Eu havia querido cantar aquela tarde, mas apenas pude cajonear una vidala sem palavras: Lloran las ramas del viento. E de fato, havia um vento estranho que passava assobiando por entre os pinheiros, estremecendo os juncos da beira do Biwa.
ATAHUALPA YUPANQUI




EL MONTE DE LOS MIL PINOS
FAIXA 05
CD LA PALABRA
GRABACIONES INEDITAS
ATAHUALPA YUPANQUI
2000

LLORAN LAS RAMAS DEL VIENTO
FAIXA 12
ATAHUALPA YUPANQUI
1971

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014


Don Atahualpa


por Alfredo Zitarrosa


fevereiro 4, 1966


tradução livre: Enilton Grill


Tinha que vê-lo subir ao palco, sentar-se ali, diante de uma platéia grandiosa, atravessar a guitarra zurda e acomodar suas duas mãos cuarteadas, torcidas como as mãos de um reumático, para preludiar uma milonga em ré menor.

Na noite de estreia, um domingo, cantou as 'coplas del payador perseguido'; uma versão nova, de duração reduzida, com algumas coplas recém feitas. Sobre a praça baixou um silêncio profundo, que só se rompeu com o aplauso estrondoso do final.

O Festival de Cosquín é um evento gigante com valores consagrados que se apresentam sob contrato prévio, mas que se completa com outros inumeráveis intérpretes, que cantam ou dançam por amor à arte, e pagam os próprios gastos ou não, segundo suas próprias vontades.

Dura oito dias; e o espetáculo de cada jornada, mais de seis horas. Precisamente por causa dessa enorme quantidade de intérpretes, ninguém terá oportunidade de cantar mais de dois ou três temas.

Tirando os 'grandes' (Yupanqui, Los Fronterizos, Guaraní, los Ábalos), mais ou menos autênticos ou populares, o resto do programa se cumpre à risca, no palco, e se prolonga mais adiante, em peñas y fogones por todo o local, durante o dia e durante a noite.

Dezenas de delegações, intérpretes, autores, representantes, 'espiões' das gravadoras, se misturam nos hotéis e pensões, à beira do rio Cosquín, em barracas, em carros ou caminhões acondicionados para servir de alojamento provisório, transformando aquilo em um amontoado de seres e coisas, de máquinas e animais.

No meio desse caos, que se organiza e passa pelos caça-níqueis da Plaza Próspero Molina, don Atahualpa Yupanqui, homem de silêncios e melancolias, versado em buscar solidão, come e dorme como qualquer turista, longe do ruído, no hotel mais distante.

Quando aparece o cronista da Radio El Mundo, gravador na mão, don Atahualpa se levanta e muda de lugar ainda que tenha que abandonar a seus amigos. E então o radialista se dirige a qualquer outro cantor.

Mas depois da sesta, talvez se possa falar com ele à beira do rio. Sim, a entrevista não vai ser fácil. Mas hão de cair-lhe bem um olhar e um aperto de mão sem espalhafatos. Quem sabe então, vá em busca de seu alforje de lã, onde carrega aquecedor, cuia e bomba e possamos matear um pouco.

As perguntas políticas terão uma resposta clara e simples, ainda que depois diga que ‘está cansado de que venha qualquer um e se aproveite de sua franqueza’. Salvo raras exceções, esqueceram-se dele quando caiu preso, ou não souberam procurá-lo com caneta e papel, quando teve que exilar-se.

Fala e escreve em francês, é jornalista, foi boxeador na sua juventude e na sua casa em Cerro Colorado tem tudo que precisa: ‘piano, livros, cavalo, paisagem e silêncio’. Assim diz. A casa se chama ‘Agua escondida’, o mesmo nome de uma de suas zambas mais profundas.

—¿O que vem a ser o folclore, Don Atahualpa?
—Cantar folclore consiste em aprofundar a paisagem. Fazer folclore. Existe um jeito de ser; um jeito italiano, um jeito russo, um jeito argentino, venezuelano, ianque. Alguns dizem ‘oui’, outros ‘da’, outros ‘ya’: nós dizemos ‘Aja’... Devemos aprofundar nosso ‘Aja’.

—¿Qual foi sua primeira guitarra?
—Uma guitarra espanhola branca.

—¿Qual foi a que perdeu em Buenos Aires, segundo suas coplas del Payador?
—Uma Santos Hernández. Tive que empenhá-la.

—¿Quantas guitarras tem agora?
—Seis. Quatro argentinas, Núñez todas. Duas espanholas: uma González, que comprei em Madri, na Rua Carretas, e outra granadina, feita por um estupendo luthier, Manuel de la Chica.

—¿Quantas canções compôs; qual foi a primeira e qual a última?
—Mais de quinhentas: duzentas e pico estão gravadas. A primeira foi ‘Camino del Indio’ e a última acabo de entregá-la à Editorial Lagos; se chama ‘Vidala del Cañaveral’.

—Você é jornalista, Don Atahualpa. ¿Para quais jornais escreve e sobre quê?
—Escrevo para um jornal de Calí y para um jornal francês. Temas de sociologia.

—¿Já leu Kafka?
—Sim. É interessante, agudo, insolente para o senso comum, profundo. Mas parte do existencialismo e me faz pensar nesses filósofos modernos que buscam desorientar-se em grupo.

—¿Qual poeta de língua espanhola prefere?
—Antonio Machado em primeiro lugar. Góngora e Lorca.

—¿Sobre Vallejo e sobre Rilke...?
—Nem falar, nem falar de Vallejo. É uma coisa à parte. Sobre Rilke tenho um estudo que foi publicado em Buenos Aires em 1956. Li toda sua obra e lembro em particular a ‘Balada del portaestandarte Cristóbal Rilke’, ‘Los Cuadernos de Malte’ e ‘Las manos del buen Dios’.

—¿Por que não voltou a Montevidéu nos últimos anos?
—Porque lá vivem muitos argentinos e me deu vergonha. Saíram daqui e se foram pra lá porque aqui lhes pagavam muito mal. Parece que venceram. Francamente, me daria vergonha aparecer por lá eu também.

—¿Quais eram seus passatempos de jovem?
—Os esportes, a filosofia e a música. Há 35 anos eu era um jovem. Falava com veneração de Bach e de Beethoven. Gostava de medicina. Acabei me tornando doutor em zambas.

—¿Em que país gostaria de viver, fora da Argentina?
—Na Hungria. É uma bela terra. Em 1955 não havia tornillos nem vidros. Ali estive vivendo com os ciganos, com a tribo de Aladar Racs. Eu vi velar al violín. Conservam instrumentos de boa marca. Os grandes ciganos podem levar um, quando estão preparados para sair mundo afora. Rubén Barga, José Czigeri, levaram violinos de Tissa-Videck. O violino sempre volta, ainda que o artista envelheça, ainda que o venda. Diz-se que a cada 30 anos haverá um cigano que levará consigo um violino.

—¿Qual sua opinião sobre o festival de Cosquín?
—É uma mostra interessante. Mas não a percebo elevadamente artística. O público não tem porque escutar a qualquer medíocre, isso convém aos hoteleiros. O público tem direito de receber coisa melhor.

—¿Qual sua opinião sobre o Jazz?
—O jazz me interessa, mas não o quero em minha guitarra.

—¿Acredita que os índios peruanos têm consciência revolucionária?
—Onde o povo sofre existe um fermento revolucionário. Nem você nem eu sabemos o que acontece no Peru. É possível que nem todos tenham essa consciência. Mas também tem que pensar em quem são os que capitalizam a (consciência) que possa haver.

—¿Acredita que uma revolução socialista, no futuro, possa ser encabeçada por um líder vindo da burguesia, como Fidel?
—Devia estar muito corrompida a ditadura de Batista, quando um jovem como Fidel conseguiu fazer a revolução com um punhado de companheiros.

—¿Tem que ser marxista um líder revolucionário?
—Tem que pensar como ser humano. Eu conheci infinidade de jovens ao longo da minha vida e acredito fundamentalmente na juventude. Por outro lado não encontrei gente mais ignorante em relação ao folclore que os marxistas. Eles escutam a você como fazendo uma concessão. Falta conteúdo, na maioria dos casos.

—¿Conhece a situação política de nosso país?
—Sim. Ainda que lhe diga que não acredito nos políticos. A política é para aqueles que sabem se aproveitar dela. No seu país, por exemplo, nessa terra tão pequeninha, ¿por que não se juntam todos para fazer uma Pátria Grande? Seria tão simples.

.



Testamento


É hora de partir, meus irmãos, minhas irmãs
Eu já devolvi as chaves da minha porta
E desisto de qualquer direito à minha casa.

Fomos vizinhos durante muito tempo
E recebi mais do que pude dar.

Agora vai raiando o dia
E a lâmpada que iluminava o meu canto escuro
Apagou-se.

Veio a intimação e estou pronto para a minha jornada
Não indaguem sobre o que levo comigo
Sigo de mãos vazias e o coração confiante.
                        Rabindranath Tagore
                                     Poeta
                                     Índia
                                1861 / 1941



TESTIMONIO FINAL

Celebro mi destino
de sentir como siento,
de vivir como vivo,
de morir como muero.

Y porque lo celebro
y soy al fin la nada
de la sombra de un verso,
os digo: ¡muchas gracias!

Mil gracias, si señor
de la vida y la muerte,
por ser apenas esto,
brizna efímera y leve.

Y el de pasar mis días
finales en el mundo,
con las manos vacías
y el corazón profundo.
        Seri/Atahualpa Yupanqui


Testimonio Final
Atahualpa Yupanqui
Pasaban Los Cantores
1979

sexta-feira, 23 de agosto de 2013



PREGUNTITAS SOBRE DIOS

(LAS PREGUNTITAS)


Un día yo pregunté:
¿Abuelo, dónde esta Dios?
Mi abuelo se puso triste,
y nada me respondió.

Mi abuelo murió en los campos,
sin rezo ni confesión.
Y lo enterraron los indios
flauta de caña y tambor.

Al tiempo yo pregunté:
¿Padre, qué sabes de Dios?
Mi padre se puso serio
y nada me respondió.

Mi padre murió en la mina
sin doctor ni protección.
¡Color de sangre minera
tiene el oro del patrón!

Mi hermano vive en los montes
y no conoce una flor.
Sudor, malaria y serpientes,
es la vida del leñador.

Y que naide le pregunte
si sabe dénde esta Dios:
Por su casa no ha pasado
tan importante señor.

Yo canto por los caminos,
y cuando estoy en prisión,
oigo las voces del pueblo
que canta mejor que yo.

Si hay una cosa en la tierra
más importante que Dios
es que naide escupa sangre
pa’ que otro viva mejor.

¿Qué Dios vela por los pobres?
Tal vez sí, y tal vez no.
Lo seguro es que Él almuerza
en la mesa del patrón.
                   ATAHUALPA YUPANQUI

POETAS LATINOAMERICANOS
ATAHUALPA YUPANQUI
PREGUNTITAS SOBRE DIOS
CANAL ENCUENTRO

sábado, 18 de maio de 2013



LOS EJES DE MI CARRETA


_ POR FACUNDO CABRAL

(RECITADO)
Lo que calla la montaña
y el canto eterno del rio
el fuego del horizonte
y la nostalgia del frío

El milagro y la justicia
del caballo y de los cardos
el gorrión y los horneros
la esperanza, el sol, el campo

El patrón que es sordo y ciego
y el paisano mudo y manco
todo eso lo sabía
por tu guitarra y tu canto

Don Atahualpa Yupanqui
que abriste puerta y ventana
para que nosotros podamos
contar al mundo la Patria

Ahora canto tu milonga
para darle gusto a mi alma
y después haré silencio
y eso es para darte las gracias.

(CANTO)
Porque no engraso los ejes
me llaman abandonao
Porque no engraso los ejes
me llaman abandonao

Si a mi me gusta que suenen
pa que los quiero engrasaos
Si a mi me gusta que suenen
pa que los quiero engrasaos

Es demasiao aburrido
seguir y seguir la huella
Es demasiao aburrido
seguir, seguir y seguir la huella

Andar y andar los caminos
sin nada que lo entretenga.

No necesito silencio
Yo no tengo en qué pensar
Tenía pero hace tiempo
Ahora ya no tengo más

Los ejes de mi carreta
     nunca los voy a engrasar.
                   ROMILDO RISSO / ATAHUALPA YUPANQUI



LOS EJES DE MI CARRETA
FAIXA 02
DVD LAS Nº 1
FACUNDO CABRAL
2006

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


A ESTÁTUA E A PEDRA


_ POR JOSÉ SARAMAGO


O que é uma estátua? A estátua é a superfície da pedra, é só a superfície da pedra, é o resultado daquilo que foi retirado da pedra. Toda a escultura é isso, é a superfície da pedra e é o resultado dum trabalho que retirou pedra da pedra.

Quando acabei O Evangelho Segundo Jesus Cristo, eu não tinha, não sabia que tinha andado a descrever uma estátua, para isso tive de perceber o que é que acontecia quando deixávamos de descrever e passávamos a entrar na pedra.

E isso só pôde acontecer com o Ensaio sobre a Cegueira, que foi quando eu percebi que alguma coisa tinha terminado na minha vida de escritor que era ter acabado a descrição da estátua e ter passado para o interior da pedra.

COMO TU
FAIXA 10
EN EL OLYMPIA
PACO IBÁÑEZ
1969
LAS PIEDRAS
FAIXA 12
YO ME HE CRIAO A PURO CAMPO
ATAHUALPA YUPANQUI
1971
HALLAZGO DE LAS PIEDRAS
FAIXA 06
CAUSAS Y AZARES
SILVIO RODRIGUEZ
1986

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


A PROVA DO ALGODÃO


_ POR JOSÉ SARAMAGO


SETEMBRO DE 2008


Segundo a Carta do Direitos Humanos, no seu artigo 12º.: “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida, na sua família ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação”. E mais: “Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei”. Assim está escrito.

O papel exibe, entre outras, a assinatura do representante dos Estados Unidos, a qual assumiria, por via de consequência, o compromisso dos Estados Unidos no que toca ao cumprimento efectivo das disposições contidas na mesma Carta, porém, para vergonha sua e nossa, essas disposições nada valem, sobretudo quando a mesma lei que deveria proteger, não só não o faz, como homologa com a sua autoridade as maiores arbitrariedades, incluindo aquelas que o dito artigo 12º. enumera para condenar.

Para os Estados Unidos qualquer pessoa, seja emigrante ou simples turista, indiferentemente da sua actividade profissional, é um delinquente potencial que está obrigado, como em Kafka, a provar a sua inocência sem saber de que o acusam. Honra, dignidade, reputação, são palavras hilariantes para os cães cerberos que guardam as entradas do país.

Já conhecíamos isto, já o havíamos experimentado em interrogatórios conduzidos intencionalmente de forma humilhante, já tínhamos sido olhados pelo agente de turno como se fôssemos o mais repugnante dos vermes. Enfim, já estávamos habituados a ser maltratados. Mas agora surge algo novo, uma volta mais ao parafuso opressor.

A Casa Branca, onde se hospeda o homem mais poderoso do planeta, como dizem os jornalistas em crise de inspiração, a Casa Branca, insistimos, autorizou os agentes de polícia das fronteiras a analisar e revisar documentos de qualquer cidadão estrangeiro ou norte-americano, ainda que não existam suspeitas de que essa pessoa tenha intenção de participar num atentado.

Tais documentos serão conservados “por um razoável espaço de tempo” numa imensa biblioteca onde se guarda todo o tipo de dados pessoais, desde simples agendas de contactos a correios electrónicos supostamente confidenciais.

Ali se irá guardando também uma quantidade incalculável de cópias de discos duros dos nossos computadores de cada vez que nos apresentarmos para entrar nos Estados Unidos por qualquer das suas fronteiras. Com todos os seus conteúdos: trabalhos de investigação cintífica, tecnológica, criativa, teses académicas, ou um simples poema de amor. “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada”, diz o pobre do artigo 12º.

E nós dizemos: veja-se o pouco que vale a assinatura de um presidente da maior democracia do mundo.Aqui está. Praticámos sobre os Estados Unidos a infalível prova do algodão, e eis o que verificámos: não se limitam a estar sujos, estão sujíssimos.

BASTA YA
FAIXA 01
BASTA YA
ATAHUALPA YUPANQUI
1971
OS FANTOCHES DE KISSINGER
FAIXA 01
COM AS MINHAS TAMANQUINHAS
JOSÉ AFONSO
1976
LOS AMERICANOS
FAIXA 07
PIERO Y PABLO
PIERO
1997
LA OEA ES COSA DE RISA
FAIXA 08
HASTA SIEMPRE
CARLOS PUEBLA
1998

terça-feira, 22 de maio de 2012


EL ARRIERO


_ POR ENILTON GRILL




«El Arriero», é uma das primeiras composições de Atahualpa Yupanqui e uma das mais populares.

Convém explicar que «arriero» é o homem que conduz as tropas de gado de um lado a outro, à uma estância ou a um mercado. Na região pampeana da Argentina é chamado de «tropero» ou «resero»

Esse homem pode passar semanas inteiras conduzindo a tropa que lhe foi confiada, cuidando que os animais não se percam, não enfraqueçam  ou sejam roubados. Fortunas são confiadas a estes homens que enfrentam o sol do verão, as chuvas do inverno e o frio de todas as noites.

Ricardo Güiraldes em «Don Segundo Sombra», e Juan Carlos Dávalos em «El Viento Blanco» estilizaram as figuras arquetípicas destes trabalhadores, situando-os em dois marcos geográficos diferentes: da província de Buenos Aires o primeiro; e das cordilheiras de Salta o segundo. 

Hoje em dia, naturalmente, as carretas e os trens modificaram significativamente o trabalho de condução e transporte do gado. Mas, quase cinquenta anos atrás, quando Atahualpa Yupanqui compôs sua canção - o modo mais comum de trasportar o gado de um lugar a outro era através do trabalho árduo e rude del arriero. Porém esse trabalhador, de cuja lealdade e destreza dependiam somas de dinheiro enormes, estava tão mal pago como qualquer outro peão de campo.

Atahualpa Yupanqui diz tudo isto em poucos versos. Três ou quatro metáforas bastam para sugerir a rudeza do trabalho del arriero, sua solidão e a áspera paisagem que o oprime, além de sua condição peregrina de arriero — «Las penas y las vaquitas / se van por la misma senda / Las penas son de nosotros / las vaquitas son ajenas».

Poucas vezes se disse tanto com tão pouco.



EL ARRIERO
ATAHUALPA YUPANQUI
1944

terça-feira, 1 de maio de 2012



ELEUTERIO GALVÁN


_ POR ENILTON GRILL


Atahualpa Yupanqui foi um mestre na descrição de personagens em pouquíssimas palavras. Em seu livro «el Canto del Viento», as figuras que burila de página em página são inesquecíveis: basta um par de toques para que a figura evocada apareça em carne e osso, como se estivesse diante de nós.

No caso de Eleuterio Galván, o primeiro conjunto de versos inicia a aproximação, «hombre ni joven ni viejo / tan pobre como el que más». Logo se apresenta sua condição: rancho, canaveral, vinho: «lo demás era silencio / y era cuando hablaba más». Já está sugerido o drama sutil e anônimo de Galván: solidão, pobreza, reclusão. Em seguida aparece o elemento que dá sentido à existência deste homem: «Era una estrella pequeña / la esperanza de Galván: / soñaba con un caballo...» E depois, o golpe final sobre essa ilusão: «¡nunca lo pudo comprar!».

No versos desta milonga, a vida e a morte de Eleuterio Galván se abrem e se fecham. Não há discursos contra a injustiça que marcou esta existência; não há protestos contra o descumprimento desta modestíssima ilusão de ter um cavalo, que sustentou talvez a existência deste «pión de surco» condenado a passar sua vida cortando cana de açúcar.



ELEUTERIO GALVÁN
MI TIERRA, TE ESTÁN CAMBIANDO
1973


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012



UN PAISANO LLAMADO ATAHUALPA


ESCRITO POR SUMA PAZ
EN  2008
PARA EL CICLO 'HAS DE NARRAR'


Lunes, 31 de Enero de 2011


Si Yupanqui significa "has de contar" habrá que tener muy claro que para narrar la epopeya oscura de tantas vidas, para traducir el rigor de esas historias de hombres que pasaron sin dejar huella, el narrador no fue su observador, sino su protagonista. 


Aquel joven poeta, estudiante, escribiente, zafrero, hachero, arriero a lomo de mula, peón en las salinas, un día empuño la guitarra y la pobló con el manso silencio de su gente. Que ese manantial escondido es el único que vierte el agua de la inmortalidad. Que la carga de expresar a todo un pueblo mucho ha costado y habrá todavía de costar.


Pero su precio y su desvelo estarán saldados cuando nos demos cuenta de que allí, juntos acaso por primera vez, estamos nosotros, los argentinos.


Habrá que entrar en el Universo de Yupanqui como a un templo, para que el descubrimiento no sea una profanación: que el rincón en penumbras no sea inundado por nuestra luz; que aquello que fue un rezo no sea proferido por nuestro grito, que en fin, las tallas del dolor o la desesperanza no sufran corrección por nuestra mano.


Su carnadura es la paisanidad. Sí, allí está y estará ese paisano con el gesto, el acento, el color hondamente argentino. Sin posturas ni el grueso trazo de lo caracterizado; sin arcaísmo en la palabra despojada. "Ser paisano - decía Yupanqui - es llevar el país adentro".


Él es ese hombre tranquilo, parco, prudente, naturalmente educado y respetuoso.


A ese paisano, refugiado, en el silencio como en la trinchera, no lo reclaman ni el barullo ni la frivolidad. Lo reclama sí la guitarra, dócil en su mano rústica; la pausada conversación en la rueda de mate; la palabra ornamentada en la décima o en la copla, ese vertedero natural donde el sempiterno silencio se convierte en canto.


Si bien Atahualpa heredó de sus mayores los dones fundadores de la paisanidad, la vida entre sus pares completó al hombre total. Codo a codo con seres anónimos y silenciosos, uno más.


Uno más en el esfuerzo del trabajo y la penuria; en manos tajeadas, en rostros adultos; en ese cansancio que derriba los cuerpos en un sueño parecido a la muerte.


Así se gestó el canto de Atahualpa.


Con el país adentro. Por eso es verdad.


Es recolector de voces y sonidos; hurgador de los misterios, baqueano de rumbos y caminos, escucha del gran silencio; así irá juntando las "leñitas" para el fuego mayor.


Como un yuyero, se agacha para arrancarle a la Tierra pedacitos de sus secretos. Y entrará a los boliches para beberse las coplas de los cantores desconocidos; y guardará para aprenderlos sones de guitarra o quenas perdidas.


Como una gran alforja memoriosa, su borroso perfil se mezclará entre los paisanos hasta diluirse para siempre.


Eso fue, eso es, Atahualpa Yupanqui.
Suma Paz
(5 de abril de 1939 - 8 de abril de 2009)
Licenciada en Filosofía y letras en la Universidad del Litoral
Cantora, autora,
difundió por toda su vida
la obra de Atahualpa Yupanqui

SUMA PAZ HABLA SOBRE ATAHUALPA YUPANQUI

sexta-feira, 11 de novembro de 2011



 AS CIDADES


Fragmento de entrevista de Elomar
a Carlos Roque
1984:

“Eu acho que as cidades são um erro terrível. O progresso técnico é o grande mal da humanidade e não representa luxo nem conforto e sim um remédio com efeitos colaterais nefastos.”
Elomar Figueira Mello



Fragmento de entrevista de Atahualpa Yupanqui
a Revista Expreso Imaginário
1980

"Yo le he preguntado a los chicos de aquí (Buenos Aires): "¿Cómo se llama este árbol que está en la puerta de tu casa?". "No se. Creo que papá sabe". No hablé de ir al bosque de Palermo, hablé del árbol de la puerta de su casa, de los árboles de la manzana. Yo sabía que era una acacia blanca, pero le pregunté para ver. Y no sabía. Y uno se pone a pensar: "este se sabe de memoria todas las canciones en inglés pero no conoce el árbol que tiene adelante...".
Atahualpa Yupanqui 




LAS CIUDADES


Y entonces fue que dijimos:
Señor, enséñanos
a levantar ciudades
que sean iguales a los árboles
que llegan a estar maduros
antes de quedarse secos
(Génesis, versículo primero,
capítulo 1972, del futuro testamento)


Ciudades, fundadas para odiar.
Ciudades, tan altas, ¿para qué?
Ciudades, cadáveres de pie.
Ciudades, al polvo volverán.

Si aquí la estrella no se ve jamás,
de aquí la tierra, el ser y el sol se irán,
y reinará la soledad total,
que escrita fue la destrucción final.

Ciudades, fundadas para odiar.
Ciudades, tan altas, ¿para qué?
Ciudades, cadáveres de pie.
Ciudades, al polvo volverán.

Qué lindo será reconstruir.
Querida, te beso hasta engendrar
un hijo con vuelo de albañil en paz.

Qué lindo, te nace una ciudad,
qué calles te sangran por los pies,
qué torre será tu corazón con fe.

Y en cada charco habrá un pequeño mar
y en cada fragua un inventor de sol
y en cada puerta la inscripción astral
y en cada triste un aprendiz de Dios.

Ciudades, ciudades que serán.
Ciudades, sentí su anunciación.
Ciudades, las vengo a construir.
Ciudades, del polvo volverán.
                                             Astor Piazzolla / Horacio Ferrer

 LAS CIUDADES

quinta-feira, 10 de novembro de 2011



 EL PAISAJE Y EL HOMBRE


Por Atahualpa Yupanqui


Pipo Lernud y Héctor Ariel Olmos
Para Expreso Nº53
Diciembre de 1980


La geografía, el paisaje, aconsejan. La pampa no tiene montañas, no tiene accidentes. Un hombre a caballo domina todo el paisaje. Por eso el habitante de la pampa es menos supersticioso que el indio del norte. Porque él ve salir y ponerse el sol. Ve salir y meterse la luna. Va galopando en los grande espacios planos. No tiene misterios, no tiene miedos. Alguna luz mala, puede ser, pero un hombre a caballo domina el paisaje. En cambio, en la montaña, la primer piedra le cortó los horizontes. El indio no llega hasta la media mañana. A las cinco de la tarde ya se escondió detrás de la montaña. Y empieza a extenderse las sombras. Y el indio se pregunta: ¿A dónde fue el sol? ¿Qué hay detrás de la montaña?

El hombre de la montaña, cuando canta ¿que canta? Coplas breves. Porque vive constreñido entre valles y piedras. Cuando baila es como si tuviera un poncho de lata (imita los movimientos del baile, con los brazos caídos, mo-vimientos cortos). Un coya, cuando va a un boliche, nunca grita. "Un vinito, una cervecita". Todo en diminutivo y voz baja. Y a lo mejor se toma veintidós "cervecitas". Recién cuándo están chupados, o es carnaval, entonces dan su grito en la noche. Una coplita de cuatro versos apenas. Ese hombre, cuando enlaza, hace una armada chiquita, porque tiene piedra todo alrededor.

En la pampa, en cambio, el hombre agarra un lazo ancho, como para envolver seis toros. Y va al galope. Tira lejos y agarra. Y nunca habla en voz baja. Cuando entra al boliche grita: "¡negro, servime una ginebra!" fuerte, porque la pampa no tiene ecos, no le devuelve la voz. En cambio la montaña le devuelve la voz al indio y él cree que son dioses misteriosos que le están devolviendo la voz. 

Por eso el paisano usa décimas largas en su poesía. Porque tiene pampa para rato. Por eso los estilos de la pampa son largos. Son versos que parecen hechos en la cárcel, dónde la gente tiene tiempo de sobra. El hombre del Sur es muy seguro de sí mismo, y por eso se permite dar consejos. El otro está abrumado, apresado por el paisaje, y así es su canto.
Atahualpa Yupanqui

quarta-feira, 9 de novembro de 2011



 EL CAMINO DE LA CANCION


Por Atahualpa Yupanqui

Pipo Lernud, Héctor Ariel Olmos
*Para Expreso Nº53
Diciembre de 1980


- ¿Cómo compone, don Ata?

- Hago coplas con la idea de ponerles música alguna vez. Y a lo mejor después les sale una zamba, una chacarera, una vidala. No siempre es a partir de la copla la cosa, pero uno no puede estar con una guitarra en la cama a las tres de la mañana, pero puede, con un lápiz y un papel, anotar una coplitas en un sobre. Una vez que hay una frase ya está la puntita. A lo mejor me voy a dormir, porque lo que me inquietaba ya salió. Vamos a ver que pasa.


Algunas veces escucho un refrán: "¿Como te va, Anto?" (por Antoño) le dice un paisano a otro que va arriando tres vaquitas por el monte. Esto sucede en Anta, provincia de Salta. En la estancia de los Matorras. Mientras los dueños de casa se habían ido a cazar, yo, que no tengo rifle y no me gusta la caza, me había quedado haciendo el azado para cuando vengan los patrones. Mientras se hacía nos ibamos comiendo los mejores pedazos, íbamos "picando". Y entonces, uno de los peones que estaba allí conmigo, larga el: "¿Como te va Anto?". "Y, aquí me ves" dice el otro, "ajenas vacas arriando, ajenas culpas pagando". Salió medio en verso.


A mi no me faltaba mi libretita y anoté. me gustó el refrán. El otro le dice: "Cuando encerrés las vacas volvé". Y le hizo el gesto de comer. No volvió el hombre. Pero yo anoté el refrán. Parece que me hubiera pasado el destino por al lado y me largó la frase. Un año después ,hice "El arriero". Con ese refrán, dicho por un paisano. Lo estiré, hable del paisaje, le puse imágenes, pero el nudo era ese.


La primera versión decía: "Ajenas culpas pagando y ajenas vacas arriando". Lindo asunto. poco a poco, la estructura de la canción, el camino que ella lleva, me hizo cambiarlo por: "Las penas son de nosotros / las vaquitas son ajenas". Lo hice más Yupanqui, menos Anto. Agradezco la sugerencia que me hizo el paisano sin saber. Él no sabe el gran favor que me hizo, me tiró una poesía.


*Ese número del Expreso (Nº53, de diciembre de 1980) 
fue el menos vendido de toda su historia 
pero, diametralmente, terminó siendo 
uno de los mejores recordados.



EL ARRIERO

En las arenas bailan los remolinos,
el sol juega en el brillo del pedregal,
y prendido a la magia de los caminos,
el arriero va, el arriero va.

Es bandera de niebla su poncho al viento,
lo saludan las flautas del pajonal,
y animando la tropa par esos cerros,
el arriero va, el arriero va.

Las penas y las vaquitas
se van par la misma senda.
Las penas son de nosotros,
las vaquitas son ajenas.

Un degüello de soles muestra la tarde,
se han dormido las luces del pedregal,
y animando la tropa, dale que dale,
el arriero va, el arriero va.

Amalaya la noche traiga un recuerdo
que haga menos peso mi soledad.
Como sombra en la sombra por esos cerros,
el arriero va, el arriero va.
                                         Atahualpa Yupanqui

 EL ARRIERO

quinta-feira, 18 de agosto de 2011



 LOS OTROS CUENTOS

RELATOS DEL SUBCOMANDANTE MARCOS


LA HISTORIA DE LAS MIRADAS

Mira Capitán (porque debo aclararles que en el tiempo en que yo conocí al Viejo Antonio tenía yo el grado de Capitán Segundo de Infantería Insurgente, lo que no dejaba de ser un típico sarcasmo zapatista porque sólo éramos cuatro –desde entonces el Viejo Antonio me llama 'Capitán'), mira Capitán, hubo un tiempo, hace mucho tiempo, en que nadie miraba…

No es que no tuvieran ojos los hombres y mujeres que se caminaban estas tierras.

Tenían de por sí, pero no miraban. Los dioses más grandes, los que nacieron el mundo, los más primeros, de por sí habían nacido muchas cosas sin dejar mero clarito para qué o por qué o sea la razón o el trabajo que cada cosa debía de hacer o de tratar de hacer.

Porque de que cada cosa tenía su por qué, pues sí, porque los dioses que nacieron el mundo, los más primeros, de por sí eran los más grandes y ellos sí se sabían bien para qué o por qué cada cosa, eran dioses pues.

Pero resulta que estos dioses primeros no muy se preocupaban de lo que hacían, todo lo hacían como fiesta, como juego, como baile.

De por sí cuentan los más viejos de los viejos que, cuando los primeros dioses se reunían, seguro tenía que haber una su marimba1, porque seguro que al final de sus asambleas se venían la cantadera y la bailadera.

Es más, dicen que si la marimba no estaba a la mano, pues nomás no había asamblea y ahí se estaban los dioses, rascándose nomás la barriga, contando chistes y haciéndose travesuras.

Bueno, el caso es que los dioses primeros, los más grandes, nacieron el mundo, pero no dejaron claro el para qué o el por qué de cada cosa. Y una de estas cosas eran los ojos.

¿Acaso habían dejado dicho los dioses que los ojos eran para mirar? No pues.

Y entonces ahí se andaban los primeros hombres y mujeres que acá se caminaron, a los tumbos, dándose golpes y caídas, chocándose entre ellos y agarrando cosas que no querían y dejando de tomar cosas que sí querían. Así como de por sí hace mucha gente ahora, que toma lo que no quiere y le hace daño, y deja de agarrar lo que necesita y la hace mejor, que anda tropezándose y chocando unos con otros.

O sea que los hombres y mujeres primeros sí tenían unos sus ojos, sí pues, pero no miraban. Y muchos y muy variados eran los tipos de ojos que tenían los más primeros hombres y mujeres. Los había de todos los colores y de todos los tamaños, los había de diferentes formas. Había ojos redondos, rasgados, ovalados, chicos, grandes, medianos, negros, azules, amarillos, verdes, marrones, rojos y blancos.

Sí, muchos ojos, dos en cada hombre y mujer primeros, pero nada que miraban.

Y así se hubiera seguido todo hasta nuestros días si no es porque una vez pasó algo.

Resulta que estaban los dioses primeros, los que nacieron el mundo, los más grandes, haciendo una su bailadera porque agosto era, pues, mes de memoria y de mañana, cuando unos hombres y mujeres que no miraban se fueron a dar a donde estaban los dioses en su fiestadero y ahí nomás se chocaron con los dioses y unos fueron a dar contra la marimba y la tumbaron y entonces la fiesta se hizo puro borlote y se paró la música y se paró la cantadera y pues también la bailadera se detuvo y gran relajo se hizo y los dioses primeros de un lado a otro tratando de ver por qué se detuvo la fiesta y los hombres y mujeres que no miraban se seguían tropezando y chocando entre ellos y con los dioses.

Y así se pasaron un buen rato, entre choques, caídas, mentadas y maldiciones.

Ya por fin al rato como que se dieron cuenta los dioses más grandes que todo el desbarajuste se había hecho cuando llegaron esos hombres y mujeres.

Y entonces los juntaron y les hablaron y les preguntaron si acaso no miraban por dónde caminaban.

Y entonces los hombres y mujeres más primeros no se miraron porque de por sí no miraban, pero preguntaron qué cosa es “mirar”.

Y entonces los dioses que nacieron el mundo se dieron cuenta de que no les habían dejado claro para qué servían los ojos, o sea cuál era su razón de ser, su por qué y su para qué de los ojos. Y ya les explicaron los dioses más grandes a los hombres y mujeres primeros qué cosa era mirar, y los enseñaron a mirar.

Así aprendieron estos hombres y mujeres que se puede mirar al otro, saber que es y que está y que es otro y así no chocar con él, ni pegarlo, ni pasarle encima, ni tropezarlo.

Supieron también que se puede mirar adentro del otro y ver lo que siente su corazón.

Porque no siempre el corazón se habla con las palabras que nacen los labios.

Muchas veces habla el corazón con la piel, con la mirada o con pasos se habla.

También aprendieron a mirar a quien mira mirándose, que son aquellos que se buscan a sí mismos en las miradas de otros.

Y supieron mirar a los otros que los miran mirar.

Y todas las miradas aprendieron los primeros hombres y mujeres.

Y la más importante que aprendieron es la mirada que se mira a sí misma y se sabe y se conoce, la mirada que se mira a sí misma mirando y mirándose, que mira caminos y mira mañanas que no se han nacido todavía, caminos aún por andarse y madrugadas por parirse.

Subcomandante Marcos
Montañas del sureste mexicano



LA HISTORIA DE LAS MIRADAS
RELATO DEL SUBCOMANDANTE MARCOS
NARRADO POR EDUARDO GALEANO

PARA EL QUE MIRA SIN VER


Por Atahualpa Yupanqui


Para el que mira sin ver
La tierra es tierra nomás
Nada le dice la pampa
Ni el arroyo, ni el sauzal

Pero la pampa es guitarra
Que tiene un hondo cantar
Hay que escucharla de adentro
Donde nace el manantial

En el silbo de los montes
Lecciones toma el zorzal
El cardo es como un pañuelo
Dice adiós y no se va

Campo adentro y cielo limpio
Cha’ que es lindo galopear
Y sentir que adentro de uno
Se agranda la inmensidad

Un mundo en cada gramilla
Adioses en el cardal
Y pensar que para muchos
La tierra es tierra nomás

Atahualpa Yupanqui


1979

PARA EL QUE MIRA SIN VER