sábado, 23 de fevereiro de 2013



CHICO E CUBA

I

ENTREVISTA PARA
FOLHA DE SÃO PAULO


DEZEMBRO DE 2004



Folha - Você tem uma relação antiga com Cuba. O regime de Fidel Castro vem sendo cada vez mais cobrado pela ausência de democracia, pelas execuções etc. Como você se coloca nessa discussão?

Chico - Minha ligação com Cuba se estabeleceu no fim dos anos 70 até a volta das relações diplomáticas com o Brasil. Na época meu apelido era "el embajador". Eu participava de um intercâmbio cultural que envolvia muitos artistas, músicos, intelectuais. Acho que cumpri bem o meu papel. De lá para cá, tenho ido menos a Cuba. Perdi um pouco o contato.

Folha - Mas você tem amigos músicos em Cuba.

Chico - Tenho. Amigos hoje um pouco distantes. É essa a minha relação com Cuba. Existe, é claro, para a minha geração, um outro tipo de relação, afetiva, que vem da revolução cubana. Nos anos 60, aquilo era muito forte para nós. Um exemplo de resistência. Ainda hoje o ditador Fidel Castro, como gostam de dizer os jornais, inclusive a Folha... Ele é o único adversário dos Estados Unidos na América Latina que resistiu a golpes de Estado e assassinatos e está ali. Todos os outros foram depostos ou assassinados. Ele sobreviveu a vários atentados. Manteve e mantém até hoje uma posição altiva. E isso é algo que ninguém deve ignorar e que eu admiro. Quanto a fuzilamentos ou a prisão de dissidentes políticos, fico contrariado, porque não gosto e não concordo com isso. A questão toda é muito delicada. Eu gostaria que Cuba fosse um país democrático. Agora, eu gostaria de uma maneira, e o Bush gostaria de outra. Cuba poderia ser hoje o Haiti. Cuba não é. É claro que me desagrada a ideia de um partido único, de liberdades vigiadas, mas existe ao mesmo tempo a necessidade de um controle para manter os valores da revolução, que a meu ver são louváveis.