*POR CARLOS COGOY
Para o Diário da Manhã
Novembro de 2009
Às 19h do dia 14 no salão nobre da Biblioteca Pública Pelotense (BPP), aconteceu o “Tributo a Benedetti”. Comemorativa aos 134 anos da BPP, foi a quinta edição da Mostra de Música Brasil-Uruguai. Como atração, compositor e músico uruguaio Daniel Viglietti. Abertura com artistas locais: Laira Campos; Possidônio Tavares; Paulo Lima; Pedro Diazz; Teresa Ferlauto e Juan Pablo Berasain.
REENCONTRO – Viglietti recentemente apresentou concertos no Centro Cultural Mario Benedetti da Universidade de Alicante na Espanha, e na sala “Nezahualcóyotl” da Universidade Autônoma do México. Pela terceira vez em Pelotas, está reencontrando amigos como Enilton Grill Jr. “Sinto emoção ao reencontrar o público brasileiro, e mais precisamente pelo contato com os gaúchos, já que dispomos de tantas conexões culturais”, disse Viglietti em visita ao DM. Em relação à designação ‘música de protesto’, observa que o termo está esvaziado nesse momento da história. E ressalta que escreve músicas de amor. Ele acrescenta: “O amor não é só o casal, um ser para o outro. Mas o amor é que levou Che Guevara a dar sua vida pela causa da humanidade. É o amor que anima os sem-terra, a revolução cubana – sempre ameaçada pelo bloqueio norte-americano. O amor é tudo e para ele lutamos, trabalhando, escrevendo e cantando, tentando mudar o mundo. Então, sensibilizando, gerando consciência, no meu caso através de algo tão frágil como uma canção”.
FUNDAÇÃO Mario Benedetti está sendo organizada no Uruguai. Era desejo do escritor Benedetti (1920/2009) – tema da Feira do Livro de Pelotas. Presidida por Sylvia Lago, atuará no apoio a jovens escritores, área dos direitos humanos e familiares de desaparecidos. Viglietti integra a comissão que, entre outros intelectuais, conta com o escritor Eduardo Galeano. Amigo e parceiro artístico de Viglietti, Benedetti há três anos publicou o livro “Daniel Viglietti desalambrando”. A obra reúne entrevista com o músico, discografia e canções. A publicação é da editora Planeta e houve lançamentos na Argentina e Uruguai. A expectativa de Viglietti é que o livro também tenha edição em português.
BRASIL – Ao final dos anos sessenta, músicas de Chico Buarque atraíram a curiosidade de Viglietti. E pouco tempo depois ele traduziu músicas do compositor para o espanhol. Exemplifica com Deus lhe pague, Acalanto e Construção. No começo da década de oitenta em Paris, Chico Buarque o procurou pois gostaria de um disco em espanhol. E Viglietti recorda que assumiu a tarefa de selecionar músicas do brasileiro. Na trajetória, Viglietti também teve encontros com Nara Leão, João do Vale, Augusto Boal, Glauber Rocha, Gonzaguinha, Darcy Ribeiro e Milton Nascimento. Como Toquinho sentiu a perda de Vinicius de Moraes, Viglietti conta que o falecimento de Benedetti também significou a partida do seu “poeta camarada”
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ELEIÇÃO – No dia 29, uruguaios irão às urnas para votar no segundo turno da eleição presidencial. Viglietti destaca que a maioria deseja a vitória da Frente Ampla. No entanto, a direita está desesperada e tem usado de diferentes expedientes. Em relação à Lei da Prescrição – isenta de culpa os criminosos da ditadura –, cujo plebiscito recente foi vencido pelos conservadores, Viglietti observa que a Frente Ampla não se empenhou plenamente pela campanha para a revogação. Contudo, ressalta que a derrota foi por margem mínima, o que remete à expectativa de mobilização para que a Frente Ampla, vencendo na próxima semana, assuma o compromisso pelo fim da “Lei da Caducidade”, como também é conhecida.
* Carlos Cogoy é jornalista,
editor de "Cultura" do jornal Diário da Manhã.
Professor de Filosofia
Pelotas/RS.