_ POR ENILTON GRILL
«El Arriero», é uma das primeiras composições de Atahualpa Yupanqui e uma das mais populares.
Convém explicar que «arriero» é o homem que conduz as tropas de gado de um lado a outro, à uma estância ou a um mercado. Na região pampeana da Argentina é chamado de «tropero» ou «resero».
Esse homem pode passar semanas inteiras conduzindo a tropa que lhe foi confiada, cuidando que os animais não se percam, não enfraqueçam ou sejam roubados. Fortunas são confiadas a estes homens que enfrentam o sol do verão, as chuvas do inverno e o frio de todas as noites.
Ricardo Güiraldes em «Don Segundo Sombra», e Juan Carlos Dávalos em «El Viento Blanco» estilizaram as figuras arquetípicas destes trabalhadores, situando-os em dois marcos geográficos diferentes: da província de Buenos Aires o primeiro; e das cordilheiras de Salta o segundo.
Hoje em dia, naturalmente, as carretas e os trens modificaram significativamente o trabalho de condução e transporte do gado. Mas, quase cinquenta anos atrás, quando Atahualpa Yupanqui compôs sua canção - o modo mais comum de trasportar o gado de um lugar a outro era através do trabalho árduo e rude del arriero. Porém esse trabalhador, de cuja lealdade e destreza dependiam somas de dinheiro enormes, estava tão mal pago como qualquer outro peão de campo.
Atahualpa Yupanqui diz tudo isto em poucos versos. Três ou quatro metáforas bastam para sugerir a rudeza do trabalho del arriero, sua solidão e a áspera paisagem que o oprime, além de sua condição peregrina de arriero — «Las penas y las vaquitas / se van por la misma senda / Las penas son de nosotros / las vaquitas son ajenas».
Poucas vezes se disse tanto com tão pouco.
EL ARRIERO
ATAHUALPA YUPANQUI
1944
1944