A POESIA AINDA CAI DO CÉU
De Lawrence Ferlighetti
Por Reuben da Cunha Rocha
poeta, ensaísta e tradutor
Contracapa da quarta edição da revista Pitomba
Poetas, saiam dos seus armários/ Abram suas janelas, abram suas portas/ Vocês já hibernaram tempo demais em seus mundinhos fechados./ As árvores ainda estão caindo/ e não iremos mais à floresta./ Não é hora de ficar ali sentado/ enquanto o homem incendeia a sua própria casa para assar um porco/ Nada de cantar Hare Krishna enquanto Roma pega fogo./ São Luís está em chamas/ A Moscou de Maiakovski queima/ o combustível-fóssil da vida./ A Noite & o Cavalo se aproximam/ para comer luz, calor & força/ e as nuvens estão de calças./ Não é hora para o artista se esconder/ no alto, além, atrás das cortinas/ apático, aparando as unhas/ refinando-se para fora da existência./ Não é hora para joguinhos literários/ Nós vimos as melhores mentes de nossa geração/ destruídas pelo tédio em recitais de poesia./ Palavras secretas & cânticos não dão mais em nada./ Chegou a hora de arder/ de arder & gozar/ sobre o fim vindouro da civilização industrial/ que é ruim para a terra & o Homem./ Vocês visionários de apartamento/ e agitpropagandistas de guarda-roupas/ Vocês aí poetas groucho-marxistas/ e Camaradas da Classe Ociosa/ que coçam o saco o dia todo/ e discutem o proletariado da classe operária/ Vocês aí anarquistas católicos da poesia/ Vocês professores de poesia cabeludos/ Vocês aí resenhistas da poesia/ bebendo o sangue do poeta/ Vocês aí da Polícia Poética – / A poesia ainda cai do céu/ em nossas ruas ainda abertas./ As barricadas ainda não estão armadas/ Levantem-se e cantem ao ar aberto/