domingo, 27 de novembro de 2011




A MUSICA CUBANA


Por Chico Buarque


Entrevista à Rádio do Centro Cultural São Paulo
10 de Dezembro de 1985


A música cubana e a música brasileira sempre caminharam juntas, ou melhor, sempre trilharam caminhos paralelos. Se tomarmos conhecimento da música cubana é claro que ela é diferente da brasileira, mas as origens são as mesmas, a mestiçagem é a mesma. Como eles tem lá a rumba ou som que lá fora ficou sendo conhecido - comercializado - como salsa, aquele ritmo dançante corresponde um pouco ao samba no Brasil. Por exemplo, nos anos 50 eles tiveram um movimento chamado "filin", do inglês sentimento, que se formos ver, é muito parecido com o samba-canção: Dolores Duran, as harmonias de Johnny Alf. Era uma coisa bem sofisticada, bastante próxima do samba-canção. Mais tarde também a bossa-nova influenciou os cubanos. Essa questão da entrada dos instrumentos eletrônicos via Brasil chegou a Cuba. É um fato curioso: na época o diretor do ICAIC, o Instituto do Cinema Cubano, esteve no Brasil, por volta de 69. Ele era muito amigo dos cineastas todos e levou uma quantidade de discos brasileiros pra lá. E nessa época estava se formando um grupo que se chamava: Grupo de Experimentação Sonora, que estudava teoria pra fazer música para cinema. O ICAIC foi fundado no ano da Revolução. O cinema cubano já estava bastante evoluído e a música continuava um pouco aquilo: era o cha-cha-cha, a rumba, o som. E essa geração que se formou pra fazer música pra cinema é a geração que se conhece hoje como a Nova Trova do Silvio Rodriguez e do Pablo Milanés. Há uma série de coincidências e hoje eles têm a música deles, essa influência já é longínqua, mas eles têm um parentesco conosco. Por exemplo "Pequeña serenata diurna" do Silvio Rodriguez e uma homenagem explícita à bossa-nova na criação dele, é uma bossa-nova cubana.


PEQUENA SERENATA DIURNA
SILVIO RODRIGUEZ
CHICO BUARQUE
1978