Vinicius não perdeu nada
(a vida é que perdeu a graça)
Por Enilton Grill
Era 1980. Vinicius já quase não saía. Só recebia os amigos mais íntimos. Havia, na época, uma jornalista que insistia com o poeta por uma entrevista. Vinicius resistia. Até que um dia cedeu. A primeira pergunta foi fulminante:
- Poeta, o senhor tem medo da morte?
Vinicius olhou nos olhos da moça e respondeu:
- Não, eu não tenho medo da morte, o que eu tenho é saudade da vida.
E essa foi a última entrevista que Vinicius concedeu. Para o poeta já não tinha mais sentido a vida. Ele já estava de despedida. Ele já tinha vivido tudo, a vida não lhe daria mais nada. Só lembrando: a década de 80 ficou conhecida como a década perdida. De lá pra cá, tudo - ou quase tudo - é efêmero, é passageiro. Vinicius não perdeu nada. A vida é que perdeu a graça.