segunda-feira, 21 de outubro de 2013



SERENATA DO ADEUS


POR ENILTON GRILL


Rio de Janeiro. 1980. 9 de julho.

Pouco antes das sete horas da manhã, dona Rosinha, a empregada da casa de Vinicius, bate na porta do quarto de Toquinho. Tropeça nas palavras e mal consegue falar. O poeta está deitado na banheira. O corpo gelado e a respiração acelerada. Gilda, mulher de Vinicius, senta na cama paralisada. Toquinho de joelhos, trêmulo. O corpo debruçado sobre a banheira. O amigo tenta reanimar o poeta à bofetadas. Não dá tempo de mais nada. Gilda, desesperada, não consegue dizer e nem fazer nada. Agradece: Muito obrigada'.

Tom Jobim recebe a notícia em casa. Cai da cama. Sua mulher, Ana, tenta consolá-lo. Mas Tom não tem forças nem para levantar da cama. Chico Buarque ouve a notícia, acidentalmente, no rádio do automóvel. Vai direto ao cemitério. Mas Chico não consegue articular uma única frase.

Toquinho, de volta do cemitério, roda a maçaneta da porta de entrada da casa do poeta e é tomado pela imagem de Vinicius esticado no sofá da sala. Mas o sofá está vazio. Não há mais o que fazer. A vida é para viver e a morte para morrer. Toquinho chora sozinho: 'Meu Deus, Vinicius morreu'. Não há mais o que dizer. Resta lembrar. Resta cantar. Cantar a Serenata do Adeus - para uma estrela pura - cuja luz morreu.
Enilton Grill
2013. Outubro, 20


O último show de Vinicius, realizado no Canecão com Tom Jobim, Toquinho e Miúcha, os últimos discos e seus últimos momentos

João Máximo: “Vinicius de Moraes era um homem com grande amor à vida. O próprio gesto de vivenciar casamentos (e de multiplicar parcerias) fazia parte de um processo de permanente renovação a que ele se entregou enquanto teve forças”.

Neste penúltimo episódio, o último show de Vinicius de Moraes realizado no Canecão com Tom Jobim, Toquinho e Miúcha, seus dois últimos discos para a gravadora Ariola e seus últimos momentos.

João Máximo destaca o episódio da morte de Vinicius ocorrida em sua residência, na madrugada do dia nove de julho de 1980, de uma maneira que o poeta sempre imaginou: de forma natural.

Toquinho lembra que Vinicius, às vezes, falava em morte e até em suicídio, contando como poderia se matar: comendo doces na banheira até chegar ao coma diabético.

A morte chegou mesmo na banheira, em 9 de julho de 1980, aos 66 anos, mas depois de o poeta já ter sofrido duas isquemias e passar o fim de vida muito enfraquecido.

No programa, irmãos, esposas, filhos e parceiros falam dos últimos meses de vida do poeta. A doença que o consumia, o amor à vida e seu preparo interior para a morte. E Carlos Drummond de Andrade exalta o amigo e colega de poesia.



SERENATA DO ADEUS
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