POR ENILTON GRILL
Rio de Janeiro. 1980. 9 de julho.
Pouco antes das sete horas da manhã, dona Rosinha, a empregada da casa de Vinicius, bate na porta do quarto de Toquinho. Tropeça nas palavras e mal consegue falar. O poeta está deitado na banheira. O corpo gelado e a respiração acelerada. Gilda, mulher de Vinicius, senta na cama paralisada. Toquinho de joelhos, trêmulo. O corpo debruçado sobre a banheira. O amigo tenta reanimar o poeta à bofetadas. Não dá tempo de mais nada. Gilda, desesperada, não consegue dizer e nem fazer nada. Agradece: Muito obrigada'.
Tom Jobim recebe a notícia em casa. Cai da cama. Sua mulher, Ana, tenta consolá-lo. Mas Tom não tem forças nem para levantar da cama. Chico Buarque ouve a notícia, acidentalmente, no rádio do automóvel. Vai direto ao cemitério. Mas Chico não consegue articular uma única frase.
Toquinho, de volta do cemitério, roda a maçaneta da porta de entrada da casa do poeta e é tomado pela imagem de Vinicius esticado no sofá da sala. Mas o sofá está vazio. Não há mais o que fazer. A vida é para viver e a morte para morrer. Toquinho chora sozinho: 'Meu Deus, Vinicius morreu'. Não há mais o que dizer. Resta lembrar. Resta cantar. Cantar a Serenata do Adeus - para uma estrela pura - cuja luz morreu.
Toquinho, de volta do cemitério, roda a maçaneta da porta de entrada da casa do poeta e é tomado pela imagem de Vinicius esticado no sofá da sala. Mas o sofá está vazio. Não há mais o que fazer. A vida é para viver e a morte para morrer. Toquinho chora sozinho: 'Meu Deus, Vinicius morreu'. Não há mais o que dizer. Resta lembrar. Resta cantar. Cantar a Serenata do Adeus - para uma estrela pura - cuja luz morreu.
Enilton Grill
2013. Outubro, 20
O último show de Vinicius, realizado no Canecão com Tom Jobim, Toquinho e Miúcha, os últimos discos e seus últimos momentos
João Máximo: “Vinicius de Moraes era um homem com grande amor à vida. O próprio gesto de vivenciar casamentos (e de multiplicar parcerias) fazia parte de um processo de permanente renovação a que ele se entregou enquanto teve forças”.
Neste penúltimo episódio, o último show de Vinicius de Moraes realizado no Canecão com Tom Jobim, Toquinho e Miúcha, seus dois últimos discos para a gravadora Ariola e seus últimos momentos.
João Máximo destaca o episódio da morte de Vinicius ocorrida em sua residência, na madrugada do dia nove de julho de 1980, de uma maneira que o poeta sempre imaginou: de forma natural.
Toquinho lembra que Vinicius, às vezes, falava em morte e até em suicídio, contando como poderia se matar: comendo doces na banheira até chegar ao coma diabético.
A morte chegou mesmo na banheira, em 9 de julho de 1980, aos 66 anos, mas depois de o poeta já ter sofrido duas isquemias e passar o fim de vida muito enfraquecido.
No programa, irmãos, esposas, filhos e parceiros falam dos últimos meses de vida do poeta. A doença que o consumia, o amor à vida e seu preparo interior para a morte. E Carlos Drummond de Andrade exalta o amigo e colega de poesia.
SERENATA DO ADEUS
CULTURA AM
SÃO PAULO