sexta-feira, 21 de junho de 2013

Rigoberta Menchú, 1996
por Osvaldo Guayasamín



RIGOBERTA


_ por Eduardo Galeano


Ela é uma índia maia-quichê, nascida na aldeia de Chimel, que colhe café e corta algodão nas plantações do litoral desde que aprendeu a caminhar. Nos algodoais viu cair seus dois irmãos, Nicolás e Felipe, os menorzinhos, e sua melhor amiga, ainda menina, todos sucessivamente fulminados pela fumigação de pesticidas.

No ano de 1979, na aldeia de Chajul, Rigoberta Menchú viu como o exército da Guatemala queimava vivo seu irmão Patrocínio. Pouco depois, na embaixada da Espanha, também seu pai foi queimado vivo junto com outros representantes das comunidades indígenas. Agora, em Uspantán, os soldados liquidaram sua mãe aos poucos, cortando-a em pedacinhos, depois de tê-la vestido com roupas de guerrilheiro.

Da comunidade de Chimel, onde Rigoberta nasceu, não sobrou ninguém vivo.

Rigoberta, que é cristã, aprendeu que o verdadeiro cristão perdoa seus perseguidores e reza pela alma de seus verdugos. Quando lhe golpeiam uma face e, tinham-lhe ensinado, o verdadeiro cristão oferece a outra.

- Eu já não tenho face para oferecer – comprova Rigoberta.

IN MULHERES, EDUARDO GALEANO, L&PM , PORTO ALEGRE,1997.




FRAGILIDADE


_por Martim César


(Para Rigoberta Menchú)


Uma mulher lutando contra um império.
Uma mulher detentora da força de todo um povo.
Uma mulher índia. Latinoamericanamente índia.
Uma mulher gritando a vida dos seus mortos.
Eles aniquilados, torturados, desaparecidos,
(nela ressuscitados, renascidos, redivivos).
Eles, aos milhares, às centenas de milhares,
fuzilados, trucidados, engolidos pela terra.
Eles, agora envoltos pela mesma mortalha
feita da terra a que pertenciam
e que a eles pertencia.
Eles reerguendo-se, levantando-se, renovando-se
na eternidade cíclica da árvore e da semente.


Uma mulher somente, e que é muitas mulheres.
Uma mulher apenas, e que é todas as mulheres.
Rompendo casulos, levantando véus, saindo da casca,
descobrindo-se livre por si mesma,
sem liberdades oferecidas ou alforriadas.
Uma mulher liberta e não libertada.


Índia, branca, mestiça, negra, o que importa?
Uma mulher feito um rio rebentando represas.
Uma mulher onde se encontra o olhar de todos nós.
Uma mulher varando a escuridão da noite artificial,
revelando a face por trás das máscaras
de todos os opressores deste mundo.
Uma mulher mostrando que fragilidade e fraqueza


embora sendo palavras parecidas,
na realidade, têm significados
inteiramente,
totalmente,
completamente
                               diferentes.