sábado, 2 de março de 2013


CHICO, ETERNO CRAQUE


_ POR TOSTÃO


2004, 16 DE JUNHO


No sábado, Chico Buarque completa 60 anos. Lá vai ele pelo calçadão no Leblon, com as pernas finas, o andar rápido, a cabeça em pé (como os craques) e a habilidade para driblar os curiosos marcadores. Ninguém consegue pará-lo. Ele é imarcável.

Na minha casa, tenho várias reproduções em miniaturas, de pessoas que, durante a minha vida, me emocionaram, me encantaram, embalaram os meus sonhos e iluminaram o meu caminho com as suas obras. São os meus ídolos.

Além do Chico, lá estão os Beatles, Clarice Lispector, Freud, Charles Chaplin, Che Guevara, Fernando Pessoa, o personagem Dom Quixote, o sindicalista Lula. Faltam muitos outros, como o jogador Pelé, Hermann Hesse, Van Gogh, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado.

Um dos momentos que mais me alegraram e me deixaram orgulhoso foi participar, convidado pelo Chico Buarque, de uma gravação ao seu lado e do Fernando Calazans, para um DVD, no campo onde ele joga futebol. 

Por falta de condições físicas, não pude trocar tabelas com o Chico. Faríamos uma boa dupla. Coloquei ainda os meus pés no Hall da Fama, criado pelo Chico para homenagear os seus craques. Foi a minha glória.

Antes da Copa de 98, entrevistei o Chico em Paris para um programa da ESPN Brasil. Assim como o Pedro pedreiro, que sonhava com alguma coisa maior do que o mundo, Chico sonha com um time só com atacantes e muitos gols. 

Eu também, mas como sou um analista, metido a entender de detalhes técnicos e táticos, sou refém da realidade. A ESPN Brasil vai mostrar um especial neste sábado sobre a relação do Chico com o futebol.

Na mesma época, Chico participou do programa Linha de passe, da ESPN Brasil. Vi como é difícil e ansioso para ele dar entrevistas ao vivo, mesmo sobre futebol. Sofro também nessa situação. Por esse e outros motivos, parei de trabalhar na TV.

Quanto mais o Chico deseja o anonimato e a liberdade, fica mais famoso. Ele não quer ser uma celebridade, um mito, nem referência ética, como é. Chico quer ser gente, não se notar, e ter o direito de ficar em silêncio ou dizer e fazer coisas que muitos não gostam. Deixem em paz o seu coração.
Tostão