FELIZ ANIVERSÁRIO, CAÊTAS!
_ POR NELSON MOTTA
Uma das canções de Caetano Veloso diz que o homem velho já tem coragem de saber que é imortal.
Conheci Caetano Veloso em fevereiro de 1965, quando sua irmã Maria Bethânia substituiu Nara Leão no musical político Opinião e incluiu no show uma linda canção de seu irmão desconhecido.
A estreia de Bethânia, com 19 anos, foi um impacto espetacular. Mas depois do show todo mundo saiu do teatro cantando “O galo cocorocou” e perguntando quem era aquele novo compositor baiano, que unia a bossa nova às suas raízes regionais.
Aos 70 anos, como um bom leonino, Caetano pode se orgulhar de ser um dos brasileiros mais admirados e discutidos do seu tempo, que teve presença marcante em momentos-chave da cultura brasileira.
Assisti a sua consagração com Alegria, Alegria, quando começou estrepitosamente vaiado e terminou ovacionado pela plateia do festival de 67. Visitei-o em seu exílio, em Londres, e depois no Carnaval da Bahia. Assisti grandes shows dele e vi o respeito que impõe.
A inquietação, a criatividade e a coragem de experimentar marcam a carreira musical de Caetano, um discípulo radical de João Gilberto, que mudou o rumo da música brasileira com o Tropicalismo e surpreendeu o público.
Entre os grandes autores da nossa música, talvez nenhum tenha arriscado tanto como Caetano. Gravou músicas, dirigiu um filme, escreveu um grande livro, discutiu cultura, política e comportamento.
Com 64 anos fez um disco de rock underground e com 67 anos um dos melhores de sua carreira, Zii e Zie.
Caetano se tornou também um dos nossos melhores intérpretes, resgatando pérolas secretas, reinventando velhos clássicos, e, glória máxima, dividindo o microfone com o Rei Roberto Carlos.
Como ele mesmo disse, de perto ninguém é normal.
Mas tive o privilégio de o acompanhar durante 45 anos e de desfrutar de sua amizade, e posso testemunhar que, de perto, ele é de um brilho e uma inteligência anormais, é um homem doce e carinhoso, de honestidade exemplar e imensa generosidade.
Feliz aniversário, Caêtas.
NELSON MOTTA
70 ANOS CAETANOS
JORNAL DA GLOBO
NELSON MOTTA
AGOSTO DE 2012