sábado, 13 de agosto de 2011



 TEMPO DE NASCER


Por Álvaro Barcellos



Se eu nascesse amanhã
na cor de um dia qualquer
(um dia desses
de outono
ou de inverno)
decerto viria
um anjo de asas partidas
com seu terno
desbotado e surrado
sussurrar ao meu ouvido
uma antiga canção
de boas-vindas
com que saúdam-se
os vagabundos
de todas as eras.

Menestréis de esperanças
e quimeras: cantai!
Camponeses e operários,
prostitutas e excluídos,
malditos e rebeldes
de todas as cores
e formas e credos
e raças: uni-vos!
Pintores da intensa aurora:
chegai!
Anunciai os novos cantos,
poetas e loucos
de cada rincão.

Se eu nascesse amanhã,
viria decerto
o anjo vadio
para saudar-me
com seu canto rouco
em qualquer dessas esquinas.

E já não é pra ninguém mais
sequer um mínimo segredo:
sempre é tempo de nascer.

Álvaro Barcellos
Poeta e escritor
Pelotas
Rio Grande do Sul
Brasil