segunda-feira, 12 de setembro de 2011



 POESIA PALESTINA DE COMBATE


Publicado em 1981, Poesia Palestina de Combate reúne inúmeros autores que, a partir do final dos anos 1960, expressaram não apenas a dor, mas também a raiva e a indignação de seu povo através de versos.

Mas os poemas presentes em Poesia Palestina de Combate nem sempre tratam exatamente ou estritamente do drama palestino. São, na verdade, um libelo contra toda forma de racismo e opressão; e  também um chamado, se não às armas , pelo menos à revolução.

Foi nas décadas de 1950 e 1960 que surgiu o movimento da poesia nacional palestina. Adquiriu força e vitalidade tais que em muitos momentos representou, e ainda representa, um brado de combate e esperança para os palestinos que vivem sob a ocupação de Israel ou no exílio.

Apesar da forte repressão à arte popular — “A democracia israelense não suporta que os palestinos cantem”, disse uma vez o poeta Tawfic Zayyad.

O poema é, de longe, o mais popular gênero da literatura palestina. Isto pode ser em parte atribuído à forte tradição oral da sua cultura. Houve, desde o início, uma vontade de simplicidade na poesia de resistência.

Se  comunicar e se fazer entender sempre foi o objetivo. O poeta Mahmud Darwish expressou claramente isso num de seus primeiros versos:

Se os mais humildes não nos compreendem
será melhor jogar fora os poemas
e ficarmos calados. 

O poeta diz:

se meus versos são bons para meus amigos
e enfurecem os meus inimigos
então é que sou mesmo poeta
e devo continuar cantando. 
                                      Mahmud Darwish




AQUI
(Não iremos embora)


por Tawfic Zayyad*

Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em vossas goelas
Como cacos de vidro
Imperturbáveis
E em vossos olhos
Como uma tempestade de fogo

Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em lavar os pratos em vossas casas
Em encher os copos dos senhores
Em esfregar os ladrilhos das cozinhas pretas
Para arrancar
A comida de nossos filhos
De vossas presas azuis

Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Famintos
Nus
Provocadores

Recitando poemas
Guardamos a sombra
Das laranjeiras e das oliveiras
Semeamos as idéias como o fermento na massa
Nossos nervos são de gelo
Mas nossos corações vomitam fogo

Quando tivermos sede
Espremeremos as pedras
E comeremos terra
Quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
E não seremos avarentos com nosso sangue

Aqui
Temos um passado
E um presente
Aqui
Está nosso futuro

*Tawfic Zayyad, palestino de Nazaré, 
é considerado um pioneiro da poesia de resistência. 
A maior parte de sua obra foi escrita na prisão.