sábado, 3 de setembro de 2011

OPERÁRIOS, TARSILA DO AMARAL, 1933


 OPERÁRIOS


O quadro Operários foi pintado em um momento em que Tarsila do Amaral esteve ligada politicamente ao comunismo. No início dos anos 30 Tarsila esteve na União Soviética e participou de reuniões do Partido Comunista Brasileiro.

Operários (1933) ilustra o momento politico e social brasileiro do início dos anos 30: industrialização, migração de trabalhadores, consolidação do capitalismo industrial e de uma classe de trabalhadores marginalizada e explorada.

TEMAS RELEVANTES

O país passa no início dos anos 30 por profundas mudanças políticas, econômicas e sociais. O Brasil deixa neste momento de ser um país meramente agro-exportador, dominado politicamente por sua aristocracia rural, e consolida gradualmente seu projeto de industrialização. 

Os recursos naturais, os investimentos públicos e privados e o trabalho são organizados para atender a este processo, transformando significativamente a vida nas metrópoles. São construídas fábricas às centenas, e milhares de migrantes se deslocam do interior do país rumo as cidades industrializadas, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro.

O governo de Getúlio Vargas assume o compromisso na época de garantir a consolidação do projeto industrial brasileiro, construindo gradualmente as condições para a o crescimento de um capitalismo de caráter nacionalista. Aumenta significativamente a classe de operários urbanos, que trabalham nas fábricas em péssimas condições. 

A exploração do trabalho e a falta de perspectiva dos trabalhadores faz com que aumentem o número de greves e lutas por direitos. Isso exige do governo a criação de uma política de constante repressão aos seus movimentos organizados e de ataque a grupos de orientação socialista ou anarquista.

No decorrer da década de 30, os sindicatos passam a ser controlados pelo governo, os partidos de esquerda caem na ilegalidade e centenas de militantes são presos, mortos ou exilados.

Na mesma década o governo regulamenta as leis trabalhistas, organizando a produção capitalista e ajudando a conter a insatisfação dos trabalhadores, expostos a situações de trabalho em geral degradantes.

O quadro de Tarsila do Amaral é um retrato do conjunto de operários das fábricas brasileiras. Os rostos sobrepostos remetem à massificação do trabalho e às condições de vidas nas cidades. Estão representadas diversas etnias, fazendo referência à migração de diferentes locais do Brasil e do mundo para as metrópoles. 

A expressão dos operários representados é de tristeza, indiferença, cansaço. Representam as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos, e a falta de perspectivas que predomina no contexto de opressão da chamada 'Era Vargas'.

O quadro é uma expressão do crescimento capitalista no Brasil e do preço pago pelos trabalhadores para que seu êxito fosse garantido.

 Nome da Obra: Operários.
Autora: Tarsila do Amaral
Técnica: Oléo sobre Tela
Ano: 1933
 


TOM ZÉ


São São Paulo


São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor

São oito milhões de habitantes
De todo canto e nação
Que se agridem cortesmente
Correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Gaseados a prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito

São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor

Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo o centro da cidade
Armadas de ruge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
O palavrão reprimido
Um pregador que condena
Um festival por quinzena
porém com todo defeito
Te carrego no meu peito

São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor

Santo Antonio foi demitido
E os ministros de Cupido
Armados da eletrônica
Casam pela tevê
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito

São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor

                          Tom Zé, 1968















A Classe Operária

Sobe no palco o cantor engajado Tom Zé,
que vai defender a classe operária,
salvar a classe operária
e cantar o que é bom para a classe operária.

Nenhum operário foi consultado
não há nenhum operário no palco
talvez nem mesmo na platéia,
mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários.

Os operários que se calem,
que procurem seu lugar, com sua ignorância,
porque Tom Zé e seus amigos
estão falando do dia que virá
e na felicidade dos operários.

Se continuarem assim,
todos os operários vão ser demitidos,
talvez até presos,
porque ficam atrapalhando
Tom Zé e o seu público, que estão cuidando
do paraíso da classe operária.

Distante e bondoso, Deus cuida de suas ovelhas,
mesmo que elas não entendam seus desígnios.

E assim,, depois de determinar
qual é a política conveniente para a classe operária,
Tom Zé e o seu público se sentem reconfortados e felizes
e com o sentimento de culpa aliviado.
Tom Zé, 2010