é isso aí, meu camarada...
(isso aqui não tá com nada)
por enilton grill
há quem diga que ele fugiu outros que morreu e outros que enlouqueceu. fugiu não fugiu, morreu não morreu e se enlouqueceu ou não não sei. o que sei é aquilo que todo mundo sabe. o que ele é ele nunca escondeu. ele viveu pra se dar e se deu.
e depois? bem... depois ninguém sabe bem o que aconteceu.
sabe-se, pois é é visível, que anda distante.
“conheci vandré quando ele foi internado na emergência psiquiátrica da clínica de botafogo. (...) aparentava ‘tranquilidade’, mas sua fisionomia era de tristeza e dor", disse uma militante médica que trabalhava como residente no rio de janeiro em 74.
o que foi que aconteceu? simples. geraldo vandré sofreu mais do que foi capaz seu coração de suportar.
difícil de aceitar?
pra nós pode ser que sim; pra ele talvez não.
difícil de entender?
acho que não, acho que é fácil de explicar.
só na tristeza e na dor alguém pode entender que a dor tem que acabar.
mas quem quer escutar? quem quer entender?
se você quiser, vou tentar...
vandré queria virar o mundo. não deu. o mundo é um moinho.
triste e sozinho, vandré vive ainda exilado num país por ele inventado.
triste e sozinho, vandré vive ainda exilado num país por ele inventado.
onde é, não sei, mas acho que é num reino onde não tem rei.
ás vezes ele aparece e fala - diz uma meia dúzia de coisas que não parecem fazer muito nexo, depois cala.
talvez tenha sido torturado e ainda esteja condicionado e amordaçado.
não sei, ninguém sabe, se está arrependido, doente, deprimido, desiludido, constrangido, ainda revoltado ou já tresloucado.
quando fala se mostra reticente às vezes irônico e outras irritado.
talvez esteja injuriado ou se fazendo de rogado.
a verdade é que não perde a chance de mostrar que está sendo importunado.
sempre sagaz, parece dizer:
- cuidem da vida de vocês e deixem a minha em paz!
é isso aí, meu camarada...
fica aí, que isso aqui não tá com nada.
fica aí, que isso aqui não tá com nada.