sexta-feira, 10 de abril de 2015


é isso aí, meu camarada...
(isso aqui não tá com nada)



por enilton grill



há quem diga que ele fugiu outros que morreu e outros que enlouqueceu. fugiu não fugiu, morreu não morreu e se enlouqueceu ou não não sei. o que sei é aquilo que todo mundo sabe. o que ele é ele nunca escondeu. ele viveu pra se dar e se deu.  

e depois? bem... depois ninguém sabe bem o que aconteceu.

sabe-se, pois é é visível, que anda distante.  

“conheci vandré quando ele foi internado na emergência psiquiátrica da clínica de botafogo. (...) aparentava ‘tranquilidade’, mas sua fisionomia era de tristeza e dor",  disse uma militante médica que trabalhava como residente no rio de janeiro  em 74. 

o que foi que aconteceu?  simples. geraldo vandré sofreu mais do que foi capaz seu coração de suportar. 

difícil de aceitar?

pra nós pode ser que sim; pra ele talvez não.

difícil de entender?

acho que não, acho que é fácil de explicar.

só na tristeza e na dor alguém pode entender que a dor tem que acabar.

mas quem quer escutar? quem quer entender?

se você quiser, vou tentar...

vandré queria virar o mundo. não deu. o mundo é um moinho.

triste e sozinho, vandré vive ainda exilado num país por ele inventado.

onde é, não sei, mas acho que é num reino onde não tem rei.

ás vezes ele aparece e fala - diz uma meia dúzia de coisas que não parecem fazer muito nexo, depois cala.

talvez tenha sido torturado e ainda esteja condicionado e amordaçado.

não sei, ninguém sabe, se está arrependido, doente, deprimido, desiludido, constrangido, ainda revoltado ou já tresloucado.

quando fala se mostra reticente às vezes irônico e outras irritado.

talvez esteja injuriado ou se fazendo de rogado.

a verdade é que não perde a chance de mostrar que está sendo importunado.

sempre sagaz, parece dizer:

- cuidem da vida de vocês e deixem a minha em paz!

é isso aí, meu camarada...

fica aí, que isso aqui não tá com nada.