sexta-feira, 8 de novembro de 2013



CHICO BUARQUE DO BRASIL

II


POR WAGNER HOMEM


ILUSTRADO 
POR AMÉRICAS


SE TODO MUNDO SAMBASSE SERIA TÃO FÁCIL VIVER

(1964)


O cenário para o início do jogo era o Brasil do regime militar. Em 1º de abril de 1964, um golpe depôs o presidente João Goulart. No dia 9 do mesmo mês, um Ato Institucional cassou quarenta mandatos de parlamentares.

A censura começa a mostrar as garras ao proibir (e depois liberar) a exibição do filme Deus e o Diabo na terra do sol, de Glauber Rocha.

No mesmo mês estreia no Rio a peça Liberdade, liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel.

Em São Paulo, o Teatro de Arena monta Arena conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, com músicas de Edu Lobo.


Em dezembro, o show Opinião, no Rio de Janeiro, colocava lado a lado Nara Leão – expoente da Bossa Nova – e os compositores populares Zé Kéti e João do Vale.

Em 1965, o Ato Institucional nº 2 dissolve os partidos políticos e estabelece o bipartidarismo, em que a Arena (Aliança Renovadora Nacional)apoia o regime, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) reúne a esquálida oposição.

Ainda no mesmo ano é inaugurada a TV Globo, que se transformaria na maior rede de televisão do país.


TEM MAIS SAMBA

Para o musical Balanço de Orfeu,
de Luiz Vergueiro

Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer
Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver
                     1964, CHICO BUARQUE


Chico considera essa canção o marco zero de sua carreira profissional.

Foi uma encomenda feita pelo produtor Luiz Vergueiro para o show Balanço de Orfeu, que estreou em 7 de dezembro de 1964 no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo.

Em depoimento para o jornalista e escritor Humberto Werneck, Luiz conta que a música funcionaria como uma espécie de moral da história para o confronto entre a Bossa Nova e a Jovem Guarda.

A canção seria cantada no final do espetáculo, por todo o elenco, numa mais do que esperada vitória da Bossa Nova.

A primeira sugestão de Chico não satisfez o diretor, e a música só ficou pronta na véspera da estreia.

Era “Tem mais samba” – que, além de marco inicial, indicaria “uma das constantes em seu trabalho: a criação por encomenda [aquela foi a primeira], contra o relógio, mas nunca em prejuízo da beleza e do prazer de criar”, segundo Werneck.


TEM MAIS SAMBA
DO LP CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
1966