quinta-feira, 9 de maio de 2013


BADEN POWELL:
O GRANDE SHOW


_por Sérgio Cabral


Da contra-capa do LP


Um dos melhores violonistas da música popular do mundo é brasileiro e se chama Baden Powell (ou será o melhor?). Não se trata de estabelecer qualquer competição, mas não deixa de ser uma sensação curiosa a de constatar que está aqui, ao nosso lado, esbarrando conosco na rua ou batendo um papo no bar, um artista que, segundo a cantora lírica Maria D'Aparecida, 'tem na Europa um nome tão grande quanto o mundo'.

Foi esse mesmo Baden Powell que levou ao delírio o público que foi vê-lo no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, onde apresentou o espetáculo gravado neste LP. Foi o seu reencontro (aliás, o espetáculo chamava-se 'Encontro') com o Brasil depois de uma temporada de mais de quatro anos em países como a França, a Itália, a Holanda, a Bélgica, a Finlândia, o Japão e outros. 

Em todos os lugares por onde passou, Baden foi saudado pelo público e pela crítica como um fenômeno da música mundial. Em Roma, por exemplo, apresentado todo o programa que teria que apresentar para mais de duas mil pessoas que lotavam o Teatro Sistina, teve que permanecer no palco tocando por mais meia hora, por imposição da platéia. terminado o Show, teve que voltar mais sete vezes à cena para agradecer os aplausos.


O que é que Baden Powell tem para fazer tanto sucesso em qualquer lugar do mundo (no Japão, por exemplo, é um nome tão conhecido quanto qualquer astro internacional)? É que, sem dúvida, sua arte é genial. É uma dessas pessoas especiais, acima do máximo que a gente espera de um artista. 

Como se não bastasse ser um dos mais importantes compositores brasileiros, é um instrumentista extraordinário. Ao lado de apurada técnica, convivem virtudes excepcionais, como o seu domínio sobre a sonoridade do violão, a velocidade, o bom gosto, e a capacidade de extrair de cada música o melhor que ela pode dar. 

Além de tudo isso, sua musicalidade lhe permite improvisações que parecem infinitas. Um bom exemplo neste disco é a sua versão para o clássico 'Asa Branca'. O tema simples e bonito de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira foi recriado de tal maneira por Baden Powell que, ao mesmo tempo que a gente percebe a 'Asa Branca' inteira, sente também que o instrumentista penetrou nas entranhas da música arrancando-lhe todas as possibilidades de recriação. Sem dúvida, é uma interpretação antológica.


É preciso que se acentue, porém, que o nível a que Baden Powell alcançou não caiu do céu. O talento que Deus lhe deu é somado a muitas horas de estudo e de determinação. Filho de músico, Baden começou a tocar violão aos seis anos de idade e, aos nove, já estava participando do programa 'Papel Carbono', na Rádio Nacional. 

Estudou muitos anos com Jaime Florence (o Meira, do Regional do Canhoto) e, menino ainda, já estava trabalhando. Ouvia muito os discos de Dilermando reis e de Garoto (sua principal influência), apresentou-se muito em programas de rádio, em shows de subúrbio, de circo, etc. 

As coisas não foram tão fáceis para ele. O que lhe dá autoridade para uma frase que disse numa entrevista e que não resisto em transcrevê-la: 'Há muitos artistas que fazem muito sucesso, mas são iguais a sorvete: botou no sol, derrete'.



Baden Powell
O Grande Show
Gravado ao Vivo
Show "Encontro com Baden Powell"
Teatro Procópio Ferreira
São Paulo
18 e 19 de agosto
1979




Lilian Carmona - bateria
Saulo Bezerra de Melo - contrabaixo
Don Bira - percussão
Jorginho Cebion - percussão




Disco: 1

01 - Canto de Ossanha (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
02 - Samba novo (Baden Powell)
03 - Refém da solidão (Baden Powell-Paulo César Pinheiro)
04 - Petit valsa (Baden Powell)
05 - Tempo feliz (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
06 - Se todos fossem iguais a você (Tom Jobim-Vinicius de Moraes)
07 - Asa branca (Luis Gonzaga-Humberto Teixeira)
08 - Eurídice (Vinicius de Moraes)







Disco: 2

01 - Samba da bênção (Baden Powell-Vinicius de Moraes)
02 - A lenda do Abaeté (Dorival Caymmi)
03 - Valsa número um (Baden Powell)
04 - Tributo a Juazeiro (Baden Powell)
05 - Berimbau (Baden Powell-Vinicius de Moraes)