terça-feira, 1 de maio de 2012



ELEUTERIO GALVÁN


_ POR ENILTON GRILL


Atahualpa Yupanqui foi um mestre na descrição de personagens em pouquíssimas palavras. Em seu livro «el Canto del Viento», as figuras que burila de página em página são inesquecíveis: basta um par de toques para que a figura evocada apareça em carne e osso, como se estivesse diante de nós.

No caso de Eleuterio Galván, o primeiro conjunto de versos inicia a aproximação, «hombre ni joven ni viejo / tan pobre como el que más». Logo se apresenta sua condição: rancho, canaveral, vinho: «lo demás era silencio / y era cuando hablaba más». Já está sugerido o drama sutil e anônimo de Galván: solidão, pobreza, reclusão. Em seguida aparece o elemento que dá sentido à existência deste homem: «Era una estrella pequeña / la esperanza de Galván: / soñaba con un caballo...» E depois, o golpe final sobre essa ilusão: «¡nunca lo pudo comprar!».

No versos desta milonga, a vida e a morte de Eleuterio Galván se abrem e se fecham. Não há discursos contra a injustiça que marcou esta existência; não há protestos contra o descumprimento desta modestíssima ilusão de ter um cavalo, que sustentou talvez a existência deste «pión de surco» condenado a passar sua vida cortando cana de açúcar.



ELEUTERIO GALVÁN
MI TIERRA, TE ESTÁN CAMBIANDO
1973