domingo, 15 de julho de 2012

 Dylan e Ginsberg; poesia no túmulo de Kerouac, 1975

DYLAN
ON THE ROAD

3


 POR ENILTON GRILL


PARA ALVARO BARCELLOS


DECUPADO DO LIVRO
CRÔNICAS - VOLUME UM
DE BOB DYLAN


Cheguei em Minneapolis despercebido, a bordo de um ônibus Greyhound – ninguém estava lá para me receber e ninguém me conhecia, e gostei disso. Minha mãe havia me dado o endereço de uma casa de estudantes na Univesity Avenue. Meu primo Chucky, que eu mal conhecia, havia sido presidente da fraternidade estudantil.

Minha mãe disse que falou com minha tia sobre ligar para Chucky e pedir para eu ficar lá. Havia uns dois caras por lá quando cheguei, e um deles disse que eu poderia ficar num dos quartos do andar de cima, o que ficava no fim do corredor. Era uma peça insignificante, com apenas um beliche e uma mesa perto de uma janela sem cortinas. Larguei minhas malas e olhei através da janela.

Creio que estava à procura do que havia lido em On the Road / Pé na estrada – buscando a cidade grande, o som dela, buscando o que Allen Ginsberg havia chamado de ‘mundo jukebox de hidrogênio’. Talvez eu tivesse vivido nele a vida toda, eu não sabia, mas ninguém jamais o chamara assim.

Olhei pela janela do segundo andar da casa da fraternidade e entre nuvens baixas pendentes...os pássaros cantavam. Foi como se uma cortina se erguesse. Era começo de junho, um belo dia de primavera. Havia somente uns poucos caras na casa além do meu primo Chucky. Na maior parte dos dias, sentavam por lá jogando cartas e bebendo cerveja. Não davam a mínima para mim. Eu vi que poderia entrar e sair com facilidade, e ninguém iria me chatear.

Ginsberg e Dylan: homenagem a Kerouac. Lowell, Massachusetts, 1975

A primeira coisa que fiz foi trocar minha guitarra elétrica por uma acústica. O homem da loja trocou um pelo outro, e saí carregando o violão dentro de seu estojo. Eu tocaria aquele violão pelos próximos dois anos ou coisa assim. BOB DYLAN