sábado, 7 de janeiro de 2012




O ULTIMO POEMA DE SOLEDAD


POR URARIANO MOTA


Arte gera arte. Fraternidade gera fraternidade. Humanidade gera humanidade.

Se não for isso, observem que coisa linda, muito mais que linda, Ñasaindy Barrett, a filha de Soledad Barrett, me enviou ontem à noite.

Digo linda e mais que linda para expressar uma categoria que vai além da estética, alcança a história, faz da história o destino de toda a gente, e num só passo encarna uma poética real, viva, como um destino grafado em versos. Uma estética, enfim, que é também uma ética e uma profecia decifrada.

Quero dizer, devo dizer. Esse presente me chegou como se fosse gerado pelo texto “Diário da Paixão e da Infâmia”, que a jornalista e escritora Memélia postou em seu blog.

Recomendo o texto de Memélia, que é belíssimo.

Mas o fato é que, ao ler a crítica de Memélia para o livro “Soledad no Recife”, Ñasaindy me escreveu:

Muito bom! Compartilho com ela de todos os detalhes e sensações.

A música da Gal que ecoa por entre as tuas páginas, ‘Mamãe, mamãe, não chore, a vida é assim mesmo…’ e o comentário de Memélia: ‘E quantas mães até hoje ainda não enxugaram suas lágrimas porque seus filhos se foram e sequer os corpos apareceram?’... fez eu me levantar da cadeira e ir direto à papelada reservada (às memórias de minha vida e das pessoas que por ela passaram e do que me deram ou o que delas eu guardei...e que às vezes manuseio para encontrá-las e me encontrar nelas) pra te dar este poema, que talvez você já tenha, mas na dúvida...

Ele foi enviado para mim por Nanny Barrett, irmã de Soledad (outra grande guerreira, como todos da família), logo depois que nos conhecemos, no início da década de noventa. Hoje ela não está mais entre nós.

O poema foi escrito por Soledad, que o deu de presente para o aniversário de sua mãe em 11 de março de 1971.


Madre, me apena verte así
el quebrado mirar de tus ojos azul cielo
en silencio implorando que no parta.

Madre, no te apenes si no vuelvo
me encontrarás en cada muchacha de pueblo
de este pueblo, de aquel, de aquel otro
del más acá, del más allá
talvez cruce los mares, las sierras
las cárceles, los cielos
pero, Madre, yo te aseguro,
que sí me encontrarás!
en la mirada de un niño feliz
de un joven que estudia
del campesino en su tierra
del obrero en su fábrica
del traidor en la horca
del guerrillero en su puesto
siempre, siempre me encontrarás!

Mamá, no te pongas triste,
Tu hija te quiere.
                                      Soledad Barrett

MAMAE CORAGEM
CAETANO VELOSO / TORQUATO NETO
GAL COSTA
TROPICALIA OU PANIS ET CIRCENSES
1968