sexta-feira, 23 de setembro de 2011




 A PRESENÇA INVISIVEL


Por Pablo Neruda
Parral, 12 de Julho de 1904
Santiago, 23 de Setembro de 1973


Fragmento do discurso para agradecer
o Prêmio Nobel de Literatura,
1971

(...)

Volto às ruas de minha infância, ao inverno do Sul da América, aos jardins de lilases da Araucania, à primeira Maria que tive nos meus braços, ao barro das ruas que não conheciam a pavimentação, aos índios enlutados que a Conquista nos deixou, a um país, a um continente obscuro que procurava a luz.

E se esta luz se prolonga desta sala de festa e chega através de terra e mar a iluminar o meu passado, está também iluminando o futuro de nossos povos americanos que defendem seu direito à luz, à dignidade, à liberdade e à vida.

Eu sou um representante daquele tempo e das lutas atuais que povoam minha poesia. Perdão por ter estendido o meu reconhecimento a tudo que é meu, aos esquecidos da terra que nesta ocasião feliz de minha vida me parecem mais verdadeiros do que a minha expressão, mais altos do que as minhas cordilheiras, mais amplos do que o oceano.

Pertenço com orgulho à multidão humana, não a uns poucos, mas a muitos, e estou aqui rodeado de sua presença invisível.
1971,Pablo Neruda