quarta-feira, 21 de setembro de 2011



 BAJOFONDO


por Enilton Grill


 'La milonga es hija del candombe
asi como el tango es hijo de la milonga.'
Alfredo Zitarrosa
1936-1989


De onde vem o tango? Até pouco tempo, essa pergunta seria suficiente para encerrar com uma briga feroz qualquer festa na qual estivessem presentes convidados argentinos e uruguaios.

A polêmica sobre a origem do gênero envolve os que crêem que ele nasceu nos bordéis dos arrabaldes de Buenos Aires ou Montevidéu, os que reforçam a importância das raízes rítmicas africanas e os que lembram que Carlos Gardel talvez tenha nascido em Toulouse (França), e não na uruguaia Tacuarembó.

Mas, desde que um grupo de músicos começou a anarquizar a estrutura e as variações do tango, inventando o tal "tango eletrônico", a discussão encontrou uma solução diplomática. Hoje, gregos e troianos concordam ao dizer que o tango "pertence ao Rio da Prata".

Principal referência dessa onda, o Bajofondo é formado por quatro uruguaios e quatro argentinos. A proposta do coletivo é ressaltar o caráter regional e contemporâneo do tango, independentemente de que margem do rio se esteja.

"Esse rio nos une, não nos separa. Queremos estabelecer a linguagem contemporânea daqui, que contemple o som de urbes como Buenos Aires e Montevidéu", disse o produtor argentino Gustavo Santaolalla, 57, que criou o grupo com o uruguaio Juan Campodónico, em 2002.

"Significa misturar o candombe, o tango e a milonga a tudo o que veio depois, os mais de 40 anos de rock argentino, a influência do pop inglês desde os anos 60."


"Há artistas que, na sua forma de se expressar, têm um sentimento de melancolia, obscuridade e paixão que são a essência do tango. Cantores como Tom Waits, Nick Cave, Chavela Vargas ou Alfredo Zitarrosa poderiam muito bem cantar tango", explica.


No caso de Zitarrosa, Santaolalla diz que seu vibrato lembra muito o de tangueiros do passado. E que Zitarrosa, milongueiro por excelência, cantou alguns tangos em sua vida. E pelo que representa para ambos os lados do Rio da Prata, o uruguaio mereceu uma música em sua homenagem.


No AMERICAS
ZITARROSA
por BAJOFONDO