terça-feira, 2 de agosto de 2011





 cadernos do terceiro mundo

março de 2002

nº 239


uma edição histórica



nas mais de 60 páginas que dedicamos à coberura do fórum social mundial (fsm), realizado no início de fevereiro em porto alegre, estamos oferecendo informação exclusiva e de primeira mão sobre um evento que acreditamos será lembrado no futuro como um marco no processo de gestação de uma nova forma de organização social da humanidade.


nunca antes houve uma iniciativa semelhante, de construção de uma grande teia de organizações surgidas do seio da sociedade civil, diferentes entre si, mas coincidentes no anseio de abrir caminhos para um mundo que retome o compromisso com o ser humano como bússola de toda ação a política. daí o enorme esforço que a nossa equipe realizou para tornar possível esta edição especial.


não só os jornalistas que estiveram em porto alegre - beatriz bissio, memélia moreira, álvaro neiva, ivan trindade e enilton grill - , mas também a equipe editorial do rio de janeiro, pesquisadores do nosso centro de documentação, diagramador, revisor e demais colegas trabalharam arduamente para tornar possível a chegada desta edição histórica ás mãos dos leitores. era tanta riqueza de informação que até mesmo o número de páginas foi aumentado, contrariando o bom senso, em uma época de dificuldades financeiras.


mas cadernos do terceiro mundo foi fundada em 1974 e tem resistido até hoje a isso, para fazer da informação uma ferramenta da construção de um outro mundo. sempre acreditamos, como o fsm sinalizou, que, com boa informação, vontade política, coragem e amor no coração, isto é possível.


os editores






cultura da violência 


* por enilton grill

uma mulher é assassinada a cada hora no mundo. uma em cada dez mulheres sofre ao menos um estupro na vida, na maioria dos casos por homens conhecidos. cerca de 40 milhões de mulheres são exploradas pela indústria da prostituição. tailândia, filipinas, indonésia e brasil estão entre os maiores fornecedores de prostitutas. méxico, bangladesh, filipinas e brasil estão entre os que mais exploram o trabalho feminino em fábricas.

essas agressões compuseram um amplo diagnóstico da violência contra as mulheres apresentado na conferência ‘cultura da violência, violência doméstica’, durante o segundo fórum social mundial, realizado no início de fevereiro de 2002 em porto alegre. as militantes feministas apresentaram propostas contidas no documento ‘a violência contra as mulheres: aí onde o outro mundo deve agir’. as raízes da violência contra a mulher, sua relação com a globalização neoliberal e a identificação de alguns elementos para a construção de alternativas foram o foco desse rico debate.

as painelistas mostraram que as mulheres são vítimas da violência em todas as classes sociais, culturas, religiões e situações geopolíticas, ainda que esta violência assuma diferentes formas segundo as distintas sociedades. ela ocorre tanto na esfera pública como na privada, e é com freqüência exercida tanto por indivíduos como também de forma organizada por grupos de homens e por estados. sashi sail, da índia, disse que as mulheres estão submetidas a uma opressão 'ancestral, múltipla e crescente’.
 
o século 20 testemunhou o avanço das mulheres, mas não reduziu a violência,  disse a ativista indiana.  o deslocamento de empresas do norte para o sul em busca de mão-de-obra barata resulta em uma ampla  absorção da força de trabalho feminina  em condições dramaticamente precárias, com a freqüente exigência de testes de gravidez para contratação, assédio sexual e situações de risco para a saúde no ambiente de trabalho. e acrescente-se a isso, a proibição de sindicalização e os salários aviltados, quase sempre inferiores aos dos homens, para exercer as mesmas funções.

já suzy roitman, francesa, advertiu que a globalização acrescentou novas formas de discriminação e de violência contra as mulheres. entre elas, a articulação de máfias dos países, dando dimensão planetária à prostituição. também a globalização é responsável pela crescente feminização das migrações, sobretudo em direção aos países industrializados. e as mulheres da américa latina e do terceiro mundo em geral reforçam os movimentos migratórios em busca de trabalho ou são exploradas por máfias internacionais.

chegou-se à conclusão de que a responsabilidade de erradicação da violência contra as mulheres é individual e coletiva. é dos homens e das mulheres. a violência acontece no interior das famílias e das organizações. na índia no iraque e no haiti...  haiti que é aqui. 





enilton grill
autor deste blog
ativista cultural
radialista
produtor e apresentador do programa américas
nas rádios federal fm, alfa fm e
rádiocom 104.5fm