quinta-feira, 6 de agosto de 2015



Mas... 
e o PT, hein?!



Por Enilton Grill



Dia desses me perguntaram:

- E o PT, hein?!.

Fiz que não ouvi fiz que não entendi fiz que não era comigo. Desconversei, mudei de assunto. Dali a pouco...

- Bah, mas e o PT, hein?!

É difícil responder quando se esteve tão envolvido num projeto de mudança. É difícil responder quando se dedicou tantos anos de vida e quando se criou tanta expectativa de uma nova perspectiva de vida para todos nós. Difícil, muito difícil. É preciso cortar na carne. Desnecessário dizer que dói..

- Pois é, mas e o PT, hein?!

Não tive alternativa, encarei o sujeito, respirei fundo, estufei o peito e meio sem jeito puxei pela memória. Passou um filme na minha cabeça e encontrei na relação com o cinema a resposta a esta pergunta cheia de ironia e carregada de veneno. É uma lembrança meio apagada. É de uma cena de um filme de Groucho Marx, comediante e ator estadunidense.

Não lembro exatamente como era. Mas, do que eu lembro eu lembro que o comediante perseguia um delinquente em um trem e o trem ia ficando sem lenha. E ele seguia perseguindo o fugitivo colocando lenha no forno da locomotiva e, em um momento, ele vai pegar lenha e não tem mais lenha.

Então, Groucho começa a quebrar os vagões de madeira, um atrás do outro, para alimentar o forno da locomotiva. O importante era alcançar o fugitivo. Groucho não desistia. E tanto alimentou o forno da locomotiva com a madeira dos vagões que lá pelas tantas o fugitivo cansou e Groucho o alcançou. Mas aí já não havia mais vagões, só a locomotiva. Para alcançar seu objetivo, os vagões todos haviam sido sacrificados. O trem chega, mas chega sem trem. 

- Mas, e o PT, hein?!

Pois é, com relação ao PT, o que eu penso é que o importante era chegar. E pra isso, em meio à viagem, a alma foi vendida. A imagem ficou distorcida. A história acabou comprometida. É como dizia Paulo Freire, o educador que morreu aprendendo: “Somos andando”. A verdade está na viagem, não no porto. Não há mais verdade do que a busca da verdade.

É isso aí. Na mosca! O caminho se faz andando e a verdade eu sigo procurando. Mas engana-se quem pensa que eu estou capitulando. Eu não estou rendido e muito menos arrependido. Talvez um pouco órfão de Partido. Acho que isso, sim. Mas minha bússola está voltada à esquerda. Mais à esquerda ainda do que o lugar onde eu estava. Pois, de ser feliz não abro mão. E dos meus sonhos também não, sejam eles impossíveis ou não. 

- Mas... E o PT, hein?

Heráclito dizia que um homem não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio. Era uma frase que servia de ilustração à sentença basilar da sua filosofia, baseada no seguinte princípio:

“Tudo flui”.

Assim, o rio muda a todo instante, e o homem que nele se banha muda também. Eu, hoje, não sou o mesmo que fui ontem. Mas no sol e na estrela ainda acredito. E na poesia e na utopia também. Do povo brasileiro nunca desacreditei. Mas onde está a verdade, ainda não sei.

O que eu sei é que o PT de hoje não será jamais o da minha juventude. Aquele PT eu o perdi. Nunca mais vou encontrar. Não tenho mais lenha pra queimar e nem vontade de procurar.