sexta-feira, 4 de outubro de 2013



PACO IBAÑEZ EN BIARRITZ


DA AGÊNCIA TÉLAM


2013, 2 DE OUTUBRO


TRADUÇÃO:AMÉRICAS



A apresentação do cantador e compositor espanhol, que aconteceu à noite na sala da Gare du Midi, foi o acontecimento central da segunda jornada do Festival de Cinema de Biarritz da América Latina, que acontece nesta cidade do sul da França.

Vestido de preto, acompanhado, em determinados momentos, por um violonista flamenco, em outro por um acordeonista vasco e, na maioria das vezes, só com o violão, Paco Ibáñez, aos 78 anos, ofereceu um concerto memorável, no qual cantou parte de seu repertório e também parte de sua vida, feita de viagens, encontros, exílios e canções.

Filho de mãe vasca e pai valenciano, criado em Barcelona, Paris e San Sebastián, exilado com sua família primeiro, e censurado por Franco depois, Paco Ibáñez contou em seu longo concerto de mais de duas horas, algumas dessas passagens, assim como seus encontros com Georges Brassens, Pablo Neruda e Atahualpa Yupanqui.

O show da Gare du Midi (uma sala lotada em suas 1400 poltronas) começou com uma canção popular vasca no idioma euskera, na qual esteve acompanhado do acordeón, precedida pelos versos do poema 'En tiempos' de José Augustin Goytisolo.


Figura emblemática e inigualável do canto trovadoresco, Paco Ibáñez cantou seu repertório conhecido, começando com 'Déjame en paz amor tirano', sobre a poesia de Luis Góngora e 'Es amarga la verdad' de Francisco de Quevedo, máximos poetas do Século de Ouro espanhol, que o trovador musicaliza como ninguém.

'Una canción', do jovem poeta gallego Antonio García Texeiro e 'Le parapluie', de Georges Brassens, ao qual qualificou como o Johann Sebastian Bach da canção e em quem disse haver descoberto a possibilidade de musicar os grandes poetas de sua língua, como ele havia feito com Victor Hugo, vieram em seguida.

Imediatamente, Paco cantou 'Romance de Abenámar' ("Abenámar, Abenámar/moro de la morería/el día que tu naciste/ grandes señales había"), referência da poesia árabe espanhola, num concerto onde as canções foram entremeadas por histórias, casos e relatos de Paco Ibáñez.



Considerado por muitos o pai da canção autoral na Espanha, Paco ofereceu um belíssimo set de canções sobre poesias de Federico García Lorca, onde esteve acompanhado por uma magnífica guitarra flamenca.


'Romance de la luna' e 'Canción del Jinete' foram alguns dos poemas do poeta andaluz musicados e cantados por Paco.

A parte dos poetas latinoamericanos começou com 'Soldadito boliviano', do cubano Nicolás Guillén, em homenagem a Che Guevara e canção emblemática da década de 70, e prosseguiu com a também famosa 'Como tú', sobre poema do espanhol León Felipe.

A visita àqueles anos de lutas revolucionárias incluiu a magnífica 'Palabras para Julia', que compôs sobre poema de Goytisolo e sobre a qual revelou que "adquiriu um novo significado quando alguns presos políticos uruguaios me contaram que a cantavam para conseguir força e sobreviver às torturas".


Depois, Paco cantou canções sobre poemas de Pablo Neruda, o 'Poema 15' ("me gusta cuando callas porque estás como ausente") e 'Canción desesperada'. Cantou também Alfonsina Storni, de quem contou sua morte e também o relato do último poema de Alfonsina, dedicado a seu tio; e a resposta deste.

Da autora de 'Mundo de siete pozos', cantou 'Yo seré a tu lado' e 'Quisiera esta tarde', para encerrar o concerto com uma canção de Juan Goytisolo dedicada "aos jovens, de quem, os grandes meios de comunicação, estão roubando a vida, esses miseráveis vendedores de salsichas e salsichão".

No bis interpretou 'Chacarera de las piedras' de Atahualpa Yupanqui e - a pedido do público, mas não sem antes deixar uma reticência ("venho cavalgando desde o ventre de minha mãe") - 'A galopar', sobre poema de Rafael Alberti.

Paco Ibáñez fechou a noite, depois de mais de duas horas de concerto, agitado e cansado, mas inteiro em sua capacidade artística e com uma vontade assombrosa de cantar e contar.


CANÇÃO POPULAR VASCA
PACO IBÁÑEZ 
BIARRITZ
FRANÇA
OUTUBRO DE 2013