quarta-feira, 9 de outubro de 2013



OS ÚLTIMOS DIAS 
E UM POEMA DO CHE


POR ENILTON GRILL



28 DE SETEMBRO

Às 10, passaram em frente a nós 46 soldados. Às 12, apareceu outro grupo, dessa vez de 77 homens. Nosso refúgio não tem defesa contra um ataque do alto e as possibilidades de escapar são remotas se nos descobrirem.


7 DE OUTUBRO

Cumprem-se os onze meses de nossa ação guerrilheira sem complicações, bucolicamente, quando, às 12h30, uma velha pastoreando suas cabras, passou por onde estávamos acampados. Não nos deu nenhuma notícia fidedigna sobre os soldados. Só nos deu informações sobre os caminhos e disse que estávamos a uma hora de Figueras. às 17H30, Inti, Aniceto e Pablito foram à casa da velha, que tem uma filha doente e outra meio anã, dera a ela 50 pesos para que não dissesse uma palavra, mas com poucas esperanças de que cumprisse essa promessa. Saímos às 17 horas. Às 2 paramos para descansar, pois era inútil seguir avançando. O exército deu uma rara informação (que os guerrilheiros captaram no rádio) sobre a presença de 250 homens em Serrano para impedir a passagem dos guerrilheiros cercados em número de 37, dando a zona de nosso refúgio entre o rio Acero e o Oro. A notícia parece diversionista.



As palavras do dia 7 de outubro de 1967 foram as últimas escritas por Che no diário da Bolívia. No dia 9, aprisionado via-se frente a frente com o tenente-coronel Andrés Selich, boliviano e descendente de iugoslavos, anticomunista ferrenho. Selich anotou assim seu diálogo com Che.


-Comandante, acho que o senhor está um tanto deprimido.

Che teria respondido:

-Eu fracassei. Está tudo terminado e é por essa razão que me vê neste estado.

De La Paz, pelo rádio, veio a ordem do presidente René Barrientos para que fuzilassem Che. Ele foi avisado disso e comentou:

-É melhor assim. Eu nunca deveria ter sido capturado vivo.

O sargento Mario Terán se apresentou voluntariamente para a tarefa. Felix Rodriguez, um cubano-norte-americano a serviço da CIA, disse-lhe para não alvejar Che no rosto e sim do pescoço para baixo, 'para que os ferimentos parecessem ter sido feitos em combate.'


Existem diferentes versões de como foi a cena final.   Há quem diga que as últimas palavras de Che, quando Terán entrou pela porta e tremeu, com o fuzil na mão, foram:

'Sei que você veio me matar. Atire, covarde. Você só vai matar um homem.'

Terán hesitou, depois apontou seu fuzil semi-automático e puxou o gatilho, atingindo Che nos braços e nas pernas. Então, enquanto Che se contorcia no chão, aparentemente mordendo um dos pulsos para não gritar, Terán disparou outra rajada. A bala fatal penetrou no tórax de Che, enchendo-lhe os pulmões de sangue.

Era 9 de outubro de 1967, Aos 39 anos de idade, Che Guevara estava morto.




DE PÉ A LEMBRANÇA CAÍDA NO CAMINHO


De pé a lembrança caída no caminho
cansada de me seguir sem história
esquecida numa árvore do caminho.

Irei tão longe que a lembrança morra
destroçada nas pedras do caminho,
seguirei sendo o mesmo peregrino
de penhascos dentro e sorriso a fora.

Essa vista circular e forte
em um mágico passe de muleta
esquivou em minha ânsia toda meta
convertendo-me em vetor da tangente.

E não quis olhar para não te ver,
rosado toureiro de meu destino,
me convidar com gesto displicente.
             Ernesto Che Guevara