segunda-feira, 16 de setembro de 2013



LAS CIGARRAS MADRES


POR ENILTON GRILL


PARA ALVARO BARCELLOS


Argentina. Março de 1976.

Um golpe militar depõe Isabelita e sobe ao poder o General Jorge Rafael Videla. Com ele começa aquilo que os militares denominam de 'guerra suja contra a guerrilha de esquerda'. Na real é apunhalado o sol e começa a longa noite rumo à escuridão e ao silêncio. Passaram-se muitos anos. Outras quaisquer já teriam desistido. Mas las madres não arredaram pé. Elas prometeram não se mover. E todo e qualquer argentino - e toda e qualquer pedra do chão de la Plaza de Mayo - sabe que las madres no se moverán.

Eram anos escuros. Anos de solidão. Plena ditadura. Era 30 de abril. Era 1977 e um grupo de mães de desaparecidos, sob a liderança de Azucena Villaflor, fazia a primeira caminhada na Praça de Maio. Era um sábado e eram poucas. Estavam inaugurando, ainda sem saber, um tempo novo. Uma nova forma de resistir. Estavam ocupando, com seus corpos, o lugar da denúncia absoluta. A materialidade necessária para prosseguir. Prosseguir com dignidade.

Passaram-se 36 anos e as Mães da Praça de Maio continuam sua marcha.

Como la cigarra
continuam parindo poemas e revoluções
nas mentes e nos corações
de quem morre nas ruas
e renasce nas praças.