domingo, 14 de abril de 2013



A PAZ ENFERRUJADA, 
A LIBERDADE VIGIADA
E O FUNERAL PRIVATIZADO


_POR ENILTON GRILL


Morreu a Dama de Ferro. O mundo e a Rede Globo prestam homenagens. O mundo está globalizado e boa parte privatizado, é verdade. Mas ela e suas ideias não são unanimidade. Nem em sua terra. Os jornais  da Inglaterra, por exemplo, afirmam que Margareth Thatcher voltou a dividir o país com sua morte.

De acordo com a mídia britânica, muitas pessoas saíram às ruas para comemorar sua morte, em razão de discordarem de seu legado e governo, marcado por privatizações, desindustrialização e a supressão de direitos trabalhistas, além da ofensiva britânica na Guerra das Malvinas.

Um aparato policial foi preparado para evitar que manifestantes trabalhistas e de esquerda, membros de associações sindicais ou até mesmo ativistas irlandeses com ligações com o IRA (Exército Republicano Irlandês) tentem atrapalhar a cerimônia.

O diretor de cinema britânico Ken Loach, um dos muitos críticos do legado Thatcher, é um dos muitos britânicos que apoiam a sugestão de que seu enterro seja “privatizado”, ou seja, não tenha custos públicos, afirmando que a própria ex-premiê teria preferido que fosse dessa maneira.

“Lembram-se de que ela chamou (o líder da libertação sul-africana Nelson) Mandela de terrorista e tomou chá (com o ditador chileno Augusto) Pinochet? Por que nós temos de homenageá-la? Coloquem (o funeral) em uma concorrência e quem oferecer o menor orçamento ganha. É tudo o que ela gostaria que fosse”, disse.

Loach também não poupou críticas à "dama de ferro":

“Thatcher foi a mais divisiva e destrutiva primeira-ministra em todos os tempos”, afirmou. “Desemprego em massa, fechamento de fábricas, comunidades destruídas: esse foi seu legado. Ela era uma lutadora e seu inimigo era a classe trabalhadora britânica (...) Suas vitórias foram ajudadas pela corrupção de líderes de sindicatos e do Partido Trabalhista. Foi por causa das políticas iniciadas por ela que nos encontramos nessa bagunça de hoje”.

No resto do mundo, como no Reino Unido, entre as diversas reações à morte da ex-primeira-ministra britânica, houve quem lamentasse e até mesmo quem fizesse festa.

Dias atrás, nas ruas de Buenos Aires, argentinos deixaram claro que Thatcher jamais será perdoada por ter liderado a ofensiva britânica na Guerra das Malvinas, entre abril e junho de 1982, quando ao menos 649 argentinos foram mortos por tropas britânicas.

No Twitter, as reações dos argentinos à morte de Thatcher foram ainda mais intensas. "Morreu Margaret Thatcher. Que bom! Estou feliz. Urinaria em seu caixão", escreveu @sebanibal, entre inúmeras mensagens no mesmo tom. Já @Lorenzo_Perini tuitou que "a Dama de Ferro enferrujou".

Quem também usou o microblog para se manifestar foi o ativista Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1980: 

"Morreu Margaret Thatcher sem pagar por seus crimes de guerra. Não esquecemos os jovens de Belgrano", numa menção ao nome do navio argentino afundado sob ordens da ex-primeira-ministra britânica. 

Pérez Esquivel também lembrou que, depois de divulgar uma carta aberta pedindo o fim do conflito nas Malvinas, Thatcher o impediu de entrar no Reino Unido, "adotando a mesma atitude de ditaduras sul-americanas", segundo ele.

A agência estatal argentina Télam descreveu a ex-primeira-ministra como "símbolo da guerra e da revolução conservadora", além de incluir "privatizações, redução de políticas sociais, desindustrialização e pobreza em seu legado".

Segundo a Telám, Thatcher será "eternamente lembrada" na Argentina como "a política que provocou a guerra das Malvinas".

A agência lembra também que, de acordo com documentos tornados públicos no ano passado, partiu de Thatcher a ordem de afundar o navio argentino General Belgrano em 2 de maio de 1982, matando 323 argentinos.

Controversa em vida, não seria diferente em sua morte. “Esta mulher não vai voltar”, diz um site britânico, num jogo de palavras com uma frase da própria Thatcher que certa vez disse: “Essa mulher não vai mudar.”

Enfim. Morreu Margareth Thatcher. Quem quiser fazer homenagem que faça. Por mim tanto faz quanto fez. Morreu? Pois que privatizem o funeral dela: façam uma concorrência. O menor preço leva. Foi o que ela mais fez e mandou fazer.